Em latim 'delete' pertence ao imperativo do verbo 'delére' «apagar, raspar; destruir», que não deu em nada em português. Delir vem, de facto, do latim 'diluere' (relacionado com 'lauare', donde lavar), que significa «diluir, dissolver; lavar (e afogar), apagar; esclarecer». Como se vê, o significado dos dois verbos latinos por vezes é semelhante (apagar); daí a confusão devida à convergência de sentidos, já assinalados no século XIX pelo grande sábio alemão Cornu. 'Indelebilis' deu, por via erudita, indelével, com o mesmo sentido que em latim («que não pode ser apagado»). Não me equivoquei, os seus dicionários é que não estão bem, segundo me parece e salvo opinião melhor fundada. Baseei-me, como é óbvio, nos melhores dicionários, para o latim, o de Ernout e Meillet; para o latim-português, o de Francisco Torrinha, e para o português, os da Porto Editora. Os verbos latinos da 3.ª conjugação (ere, com e breve na tónica do infinitivo) deram globalmente em português verbos em -ir, como construir; ler vem de 'legere', mas através do antigo leer. Os com e (2.ª conjugação; vog. tónica do inf. e longo) dão sempre verbos em -er, e nunca em -ir. Só os verbos latinos da 3.ª dão verbos em -er e -ir.