Creio que o cerne da questão está no conceito – restrito ou alargado – de «próprio» quando falamos de nomes próprios. Em sentido restrito um nome próprio é aquele que corresponde a uma, e só uma, entidade. Diz-nos Óscar Lopes na Gramática Simbólica do Português: «… quando uma frase como “António, José e Maria” se usa de modo inequívoco, então esses nomes maiusculados estão cada qual em correspondência com um elemento apenas de um dado conjunto (de pessoas): entender tal frase é saber definir tal conjunto, graças às expressões que no respectivo contexto (dialogal ou outro) se lhe referem. Há mais Marias na Terra; mas quando, sem ambiguidade, se fala em «Maria», trata-se de um elemento único de um conjunto de pessoa(s), conjunto definido pelo facto de ter(em) esse nome…»
Creio que é a este facto que Alina Villalva se refere na Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus e outras, pág. 927. Repare que todas as referências mantêm a maiúscula, sinal de que a autora considera esses nomes como próprios. Do ponto de vista morfológico, o seu plural é regular – Luís, Luíses; Maria, Marias, etc.
Eu situaria a diferença entre (1) e (2) no âmbito da semântica ou mesmo da pragmática:
(1) A Maria já chegou.
(2) Há mais Marias na terra.
Com efeito, o plural do nome Maria é igual ao de nomes comuns com a mesma estrutura (ou terminação); do ponto de vista convencional, porque designa uma entidade única, claramente identificada, escreve-se com maiúscula.
O que distingue o singular «Maria» na frase (1) do plural «Marias» em (2) é, afinal, o conceito de próprio, que em (1) é aplicado no sentido restrito e objectivo, reportando-se a uma única entidade, enquanto em (2) se aproxima de um nome próprio colectivo plural, como os Portugueses, pois designa um grupo alargado de indivíduos que têm em comum, pelo menos, o nome. Quando dizemos Portugueses, ou Marias, não conseguimos definir objectivamente uma entidade única que lhe corresponda. É este aspecto que é problematizado e problematizável, dada a definição de nome próprio que continuamos a aceitar.
Para além do plural do nome próprio, há ainda a ter em conta, como refere, o plural dos apelidos, que, efectivamente, fazem plural quando designam não o indivíduo, mas os membros de uma família.
A situação em que o nome é utilizado para designar qualidades insere-se, creio, no conjunto global da pluralização dos nomes próprios, em que não se designa um indivíduo, mas, potencialmente, a totalidade de indivíduos com características idênticas. Poderíamos assim, dizer que «Marias há muitas, mas Camões há poucos».
Em todas as situações em que há um plural, seja no nome próprio, seja num apelido, o que acontece é a perda da individualização da entidade designada que é apresentada como um conjunto com características próprias e não como um indivíduo.