Pode dizer das duas maneiras, com os verbos apanhar, dar, pedir (ver dicionário da Academia das Ciências de Lisboa).1 Sem artigo, a expressão funciona quase como um todo, como se fosse globalmente um verbo, dando relevo à ação em geral, enquanto com artigo se foca mais o acontecimento concreto («houve uma boleia que foi dada»).
Refira-se que, no português de Portugal, a palavra boleia, «transporte gratuito no veículo de outra pessoa», é o mesmo que carona no português do Brasil. Boleia era originalmente «peça de madeira da carruagem, onde prendem os tirantes e sobre a qual vai o cocheiro» e «assento do cocheiro na carruagem» (Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora). Sobre «ir de boleia» (ou «à boleia»), escreve Orlando Neves, no Dicionário de Expressões Correntes (Lisboa, Notícias Editorial, 2000), o seguinte:
«O costume de se viajar de borla é antigo, não apenas dos tempos dos veículos motorizados. Já quando se viajava de carruagem, os cocheiros davam "boleia" a passageiros pouco endinheirados. Os borlistas não se sentavam no interior das diligências, mas, sim, na "boleia", ou seja, o nome dado ao assento do cocheiro, naturalmente por influência da "boleia", a peça de pau torneada (boleada), fixa na lança do transporte, onde se atavam os tirantes das bestas dianteiras.»
No Brasil, o uso de carona na aceção de «transporte gratuito em qualquer veículo» (Dicionário Houaiss) parece ter origem numa situação semelhante, nos tempos do transporte a cavalo, já que a palavra designa «peça dos arreios constituída por manta de couro, ger. composta de duas partes iguais, costuradas entre si, e que se coloca no dorso da cavalgadura, sob o lombilho» (idem). A origem da palavra em si é controversa, como se assinala no dicionário em referência (manteve-se a ortografia original):
«esp[anhol] carona, "parte do lombo da cavalgadura sobre a qual se põe a albarda" (1850-1872), parte inferior da albarda em contacto direto com o pêlo do animal", de orig[em] contr[o]v[ersa]; Corominas afirma ter o voc[ábulo] esp[anhol] orig[em] incerta, levantando, porém, a hipótese de a f[orma] ant[iga] carón, empregada com o mesmo valor, provir de uma declinação do lat[im] vulg[ar] caro,*carōnis, "carne", no lugar de căro, cărnis, do lat[im] cl[ássico]; J[osé Pedro] M[achado] registra com dúvida: do esp. carona < lat. *carōnia, "cadáver"; segundo A[ntônio] G[eraldo da] C[unha], do esp[anhol] carona, este der[ivado] de uma f[orma] antiga *carón, de orig[em] incerta, prov[avelmente] pré-romana; no port[uguês], [Antenor] Nasc[entes] vê interveniência do [espanhol] plat[ense] carona.»