Julgo compreender a sua frustração. Permita-me, contudo, que discorde de si: por muita razão que tenha, ela não é suficiente para que possamos afirmar a existência de uma língua portuguesa e uma língua "brasileira". Na verdade, não encontramos contradições só entre dicionários publicados em Portugal e no Brasil, mas entre dicionários publicados em Portugal. Na minha opinião, é tão legítimo falar da língua "brasileira" como da língua "alentejana" ou "trasmontana".
Vejamos o caso de croça (do germânico "krukkja" = curvo) no sentido de parte recurvada da artéria aorta (Porto Editora). Publicada em 1999, a última edição do Aurélio não contradiz apenas a grafia desta palavra em Portugal, mas também a grafia (croça) que se encontra noutro dicionário brasileiro: o Michaelis, acessível na Internet pelas Ligações do Ciberdúvidas.
Mas é croça ou crossa?
Como médico, o prezado consulente saberá melhor do que eu se a palavra entrou na nossa língua através do germânico "krukkja" ou do francês "crosse". A etimologia francesa legitima os dois ss e a germânica, salvo melhor opinião, o ç.
Até ver, apesar da minha estima pelo Aurélio, vou pelo ç.