DÚVIDAS

Croça ou crossa?

Acho óptimo e mesmo fundamental que em Portugal nos entendamos, oralmente e por escrito, em bom português. Mas tal é, admitamos, frequentemente difícil, complicado e frustrante.

Tenho visto com muita frequência citado em Ciberdúvidas o Dicionário Aurélio, que não conhecia mas depreendi ser redigido e editado no Brasil.

Há algum tempo inquiri Ciberdúvidas sobre a grafia correcta de "croça", se assim se com ss. Foi-me respondido ser "croça", o que mais não fez do que confirmar o que eu encontrara em todos os dicionários de língua portuguesa que conseguira consultar e numa Enciclopédia Luso-Brasileira, aparecendo referida "crossa" como forma erradamente usada.

Ora hoje mesmo pude folhear um exemplar ("para o ano 2001") do tão citado Dicionário Aurélio, e tal não é o meu espanto quando vejo "crossa" como a palavra correcta, sendo "croça" uma forma "errônea" (isto é, errónea)!

Então em que ficamos?! Será que o tal de Dicionário Aurélio não é antes um dicionário de língua brasileira?... Assim, é, realmente, muito difícil e frustrante.

Muito obrigado a Ciberdúvidas pela vossa existência e pelo vosso trabalho e esforço.

Resposta

Julgo compreender a sua frustração. Permita-me, contudo, que discorde de si: por muita razão que tenha, ela não é suficiente para que possamos afirmar a existência de uma língua portuguesa e uma língua "brasileira". Na verdade, não encontramos contradições só entre dicionários publicados em Portugal e no Brasil, mas entre dicionários publicados em Portugal. Na minha opinião, é tão legítimo falar da língua "brasileira" como da língua "alentejana" ou "trasmontana".

Vejamos o caso de croça (do germânico "krukkja" = curvo) no sentido de parte recurvada da artéria aorta (Porto Editora). Publicada em 1999, a última edição do Aurélio não contradiz apenas a grafia desta palavra em Portugal, mas também a grafia (croça) que se encontra noutro dicionário brasileiro: o Michaelis, acessível na Internet pelas Ligações do Ciberdúvidas.

Mas é croça ou crossa?

Como médico, o prezado consulente saberá melhor do que eu se a palavra entrou na nossa língua através do germânico "krukkja" ou do francês "crosse". A etimologia francesa legitima os dois ss e a germânica, salvo melhor opinião, o ç.

Até ver, apesar da minha estima pelo Aurélio, vou pelo ç.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa