De facto, tal distinção já não existe, mas observe-se que ela só surgiu no século XVII, conforme se aponta no Dicionário Houaiss, no verbete de cria-, raiz de criar e criação:
«[cria-] do v. lat. crĕo, as, āvi, creātum, creāre `produzir, fazer brotar, fazer aumentar, fazer crescer, criar´, conexo com o v[erbo] lat[im] cresco, `crescer´ [...]; é, pelo vulg[ar], o étimo do v[erbo] port[uguês] criar, doc[umentado] já em 1091; a grafia etimologizante crear ocorre episodicamente entre o sXVII e sXIX, tendo havido, nesse sXIX até o início [do] sXX, postulada por certos gramáticos, a distinção entre criar, `alimentar, educar, fazer crescer (pessoas, animais, plantas)´, e crear, `gerar do nada (como faz Deus) ou inventar do nada (como fazem artistas)´, distinção cedo denunciada como arbitrária (sobretudo porque a conjugação do alegado crear passava a ser mais arbitrária ainda); a prevalência do port. -i- < lat. -e- é perfeitamente consentânea com a posição pretônica de vogal variável, cedo estabilizada como -i-, das f[ormas] arrizotônicas para as rizotônicas [...].»