«O Sermão de Santo António» do Padre António Vieira foi pregado na cidade de S. Luís do Maranhão no ano de 1654, três dias antes de embarcar para o reino, procurando remédio para a salvação dos índios. Na verdade, nessa altura tinha sido já abolida a escravidão dos índios, pelo menos em teoria, nas terras do Pará e Maranhão. Mas, infelizmente, os solenes compromissos dos colonos portugueses em breve cairiam no esquecimento, continuando os índios, chamados livres, oprimidos como dantes e os do sertão escravizados injustamente. Vieira lutava, assim, pela mudança deste estado de coisas, enviando cartas para o governo de Lisboa, sermões e petições a fim de que as leis fossem respeitadas. Mas tudo inútil. Nem os colonos, nem as autoridades portuguesas, nem os religiosos de outras Ordens apoiavam a acção de Vieira.
Por isso, ele resolve ir a Lisboa tentar novas exposições para que se proclamem definitivamente leis a favor dos índios.
No dia 13 de Junho, Dia de Santo António, três dias antes da sua partida, o Padre António Vieira sobe ao púlpito e, a exemplo de Santo António, vai fazer este sermão e nas suas palavras está implícito o ambiente adverso contra ele, pois falará aos peixes já que os homens não o ouvem.
Este é o contexto histórico do «Sermão de Santo António». Vejamos agora o significado da frase referida que se esconde atrás da linguagem metafórica:
Recuando um pouco, o autor adverte que aqueles que hoje humilham os mais pequenos serão amanhã destruídos também pelos maiores. E cito: «bem ouviriam estes lá no Tejo que esses mesmos maiores, que cá comiam os pequenos, quando lá chegam, acham outros maiores que os comem também a eles.»
Por isso, o autor avisa, interrogando:
«Não vedes que contra vós se emalham e entralham as redes; contra vós se tecem as massas, contra vós se torcem as linhas: contra vós se dobram e farpam os anzóis?
(...). Não vos basta pois que tenhais tantos e tão armados inimigos de fora, senão que também vós de vossas portas adentro o haveis de ser mais cruéis, perseguindo-vos com uma guerra mais que civil e comendo-vos uns aos outros?»
Fica, assim, claro o sentido de «massas», isto é, «os inimigos de fora », aqueles que, nos corredores do palácio, conspiravam uns contra os outros, por invejas e interesses, tecendo intrigas.
MEA CULPA - O termo correcto é nassas e não massas.