DÚVIDAS

Concordância: sujeitos ligados por conj. comparativa

Gostaria de saber qual a forma correcta de utilizar a expressão «bem como» para unir dois elementos do sujeito. Ex.:

   «O acabamento do quadro, bem como as texturas, realizam-se integralmente com a ajuda da espátula.»
   A minha dúvida prende-se com o emprego das vírgulas e a concordância verbal.
   Será correcto dispensar as vírgulas? E então teríamos:
   «O acabamento do quadro bem como as texturas realizam-se integralmente com a ajuda da espátula.»
   Ou o sujeito é apenas «o acabamento do quadro»? E assim o verbo ficará na terceira pessoa do singular:
   «O acabamento do quadro, bem como as texturas, realiza-se integralmente com a ajuda da espátula.»
   Agradeço desde já a atenção que me puderem dispensar.

Resposta

«O acabamento do quadro, bem como as texturas, realiza-se integralmente com a ajuda da espátula.»

Temos aqui dois sujeitos: o acabamento do quadro; as texturas do quadro.

Ambos estão ligados por uma locução conjuntiva comparativa: bem como. Esta locução, ao introduzir o segundo sujeito, estabelece uma comparação. Na verdade, se não quisermos fazer uma comparação, poderemos substituir a locução conjuntiva comparativa por uma conjunção coordenativa de valor copulativo (e):

«O acabamento e as texturas do quadro realizam-se integralmente com a ajuda da espátula.»

Talvez percebamos melhor a diferença entre os valores comparativo e copulativo, se alterarmos a pontuação:

«O acabamento do quadro – bem como as texturas – realiza-se integralmente com a ajuda da espátula.»

Quero dizer que estão erradas as outras concordâncias apresentadas na pergunta? Não. Limito-me a fundamentar uma preferência. Na verdade, na "Nova Gramática do Português Contemporâneo" (pág. 511), Celso Cunha e Lindley Cintra admitem: «Quando dois sujeitos estão unidos por uma das conjunções comparativas como, assim como, bem como e equivalentes, a concordância depende da interpretação que dermos ao conjunto (...).» O verbo concordará com o primeiro sujeito, se quisermos realçar a comparação; ou com os dois sujeitos, se pretendermos evidenciar o todo que eles constituem.

Cf. O Enigma, texto de Vergílio Ferreira na Antologia.

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