A genuína cantiga de amor devia ser um «lamento em forma paralelística, grito de amor infeliz, que ecoasse de estrofe em estrofe» (M. Rodrigues Lapa). Na definição da Arte de Trovar, «se eles falam na prima cobra e elas na outra, é d'amor, porque se move a razom dele». Ou seja, quando a voz é dele, a qual deve proceder à análise dos sentimentos, intensos, e mostrar a insatisfação amorosa. Os tormentos, porém, devem respeitar um ideal de cortesia, medida, isto é, mesura, para com a destinatária, tantas vezes a Virgem Maria. Na exterioridade formal, o refrão é suplantado pela mestria, termos que classificavam a estrofe das cantigas. O talho ou forma da estrofe tinha número superior de versos na cantiga de amor; investia-se mais em fiindas (epílogos ou versos-remate, fora do corpo da cantiga propriamente dita). A mestria via-se no diálogo, mais rebuscado na tenção amorosa, em que se disputavam especialistas da arte de amar – embora também haja tenção de amigo e de escárnio e de maldizer. O octossílabo e o decassílabo, quase sempre de rima masculina, eram outra importação de França. O acento interno recaía, em princípio, na quarta sílaba. E falar, aqui, do ritmo isossilábico levaria longe. A rima era consonante (assonante, nas de amigo); e conviria ver alguns artifícios mais característicos das de amor: além da fiinda e atá-fiinda (ou atéuda, isto é, ligadas), o dobre, mozdobre, a palavra perduda (perdida). Não se pode, sem exemplos concretos, perceber devidamente este jogo de alma e forma.