DÚVIDAS

Campeonato Nacional da Língua Portuguesa

De acordo com a primeira prova do Campeonato Nacional da Língua Portuguesa, a versão correcta do segundo texto é a seguinte:

«Numa democracia, é essencial manter um ambiente de liberdade de informação a fim de exercer o nosso direito de cidadania. Por conseguinte, em todas e quaisquer circunstâncias, a pluralidade é um valor a preservar. Decerto que podem surgir problemas ou que pode haver conflitos, mas é preferível arrostar com as consequências desse clima, do que corrermos o risco de uma unanimidade pusilânime e que nos traria uma inércia colectiva. Por isso, embora alguns comentadores sejam às vezes tendenciosos, eles representam diversas correntes de opinião e devem exprimir-se com espontaneidade nos órgãos de comunicação.»

As minhas dúvidas são relativas aos seguintes aspectos do texto anterior:

1) A expressão «... a fim de exercer o nosso direito...» está correcta? Não deveria ser «...a fim de exercermos o nosso direito...»?
2) É correcto escrever-se «Decerto que podem surgir...»? Não deveria antes ser «Decerto podem surgir..» ou «É certo que podem surgir...»?
3) Em vez de «... que podem... ou ... que pode...», não seria mais correcto utilizar «que podem... ou pode....»?
4) Em vez de «é preferível..., do que corrermos...», não seria mais correcto utilizar-se «é preferível..., a corrermos...»?
5) Finalmente, na expressão «... o risco de uma unanimidade pusilânime e que nos traria uma ...», a aplicação da conjunção é correcta? Não deveria ser antes «... o risco de uma unanimidade pusilânime, o que nos traria uma...» ou «... o risco de uma unanimidade pusilânime, que (a qual) nos traria uma...»?

De forma a esclarecer os pontos acima referidos, apresento-as no seguinte texto:

«Numa democracia, é essencial manter um ambiente de liberdade de informação a fim de exercermos o nosso direito de cidadania. Por conseguinte, em todas e quaisquer circunstâncias, a pluralidade é um valor a preservar. Decerto podem surgir problemas ou pode haver conflitos, mas é preferível arrostar com as consequências desse clima, a corrermos o risco de uma unanimidade pusilânime, o que nos traria uma inércia colectiva. Por isso, embora alguns comentadores sejam às vezes tendenciosos, eles representam diversas correntes de opinião e devem exprimir-se com espontaneidade nos órgãos de comunicação.»

Obrigado.

Resposta

1) Na primeira linha de texto corrigido, vemos que o verbo manter não tem sujeito definido, o que pode influenciar o verbo exercer. As palavras subsequentes, «o nosso direito de cidadania», evidenciam que quem exerce esse direito somos nós e, por isso, o infinitivo pessoal exercermos é mais adequado. O facto de os verbos surgirem no infinitivo impessoal deve-se ao estilo do autor, que tende a ser vago e a não aproveitar todos os recursos da língua portuguesa.
2) Quanto ao que depois de decerto, estamos perante uma série de questões: se decerto que é uma locução conjuncional, onde está a oração subordinante ou principal? Se a oração subordinante é uma das anteriores, por que motivo há um ponto final depois de «preservar»? Devemos fazer períodos sem orações subordinantes?
Concordamos com a eliminação das duas primeiras ocorrências da palavra que, porque o texto fica mais fluente. Há pessoas que usam excessivamente a palavra que. Neste caso, parece-nos uma liberdade do autor, que usa duas vezes a palavra que como partícula de realce.
3) Ainda que se mantenha o primeiro que como partícula de realce, o segundo é nitidamente excessivo. O verbo poder usado como auxiliar de surgir e imediatamente como auxiliar de haver, que obriga à terceira pessoa do singular, é estilisticamente desequilibrado porque corta a fluência da leitura.
4) O adjectivo preferível foi tomado como um comparativo de superioridade; por isso, devemos substituir a locução do que por outra construção, nomeadamente «a corrermos».
5)) Concordamos igualmente com a eliminação da conjunção e, conforme nos propõe.

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