Tem razão o nosso consulente. Nas outras línguas europeias, e mesmo nas românicas, desconhece-se qualquer forma que se assemelhe com a portuguesa (cachimbo), o que pode ser considerado como índice de originalidade da nossa língua, não tanto pelo culto da diferença pela diferença, mas pela manifestação de influências de outras línguas não europeias, com as quais os portugueses estiveram em contacto.
As formas predominantes (por exemplo, pipe, em francês e inglês, com pronúncias diferentes, ou pipa, em italiano e espanhol) nas outras línguas europeias derivam (regressivamente) do latim vulgar pippare, a partir do latim pipare, que significava nada mais nada menos do que «piar», «pipilar», «chilrear», «soltar vagidos», atestado, por exemplo, em francês medieval, no fim do século XII (v. piper e pipe, em A. J. Greimas, Dict. de l'Ancien Français, Larousse, Paris, 1986). Como muitas vezes acontece, houve uma contaminação muito imaginativa do sentido (talvez com base no ligeiro ruído que acompanha a inspiração do fumo ou a manutenção do fogo no fornilho).
A origem da palavra portuguesa ainda se encontra envolta em mistério. Afastando-se das outras formas existentes nas línguas europeias, cachimbo levanta, de facto, problemas que esperamos sejam solucionados no futuro, principalmente com o conhecimento mais aprofundado de outras línguas, sobretudo africanas e americanas. A síntese de tais problemas encontra-se em J. Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 2.ª ed., Lisboa, 1967, Vol. I, p. 488: em primeiro lugar, segundo Gonçalves Viana, o vocábulo «é já antigo no sentido em que o empregamos de 'tubo e chaminé para fumar', além do de 'fêmea de gonzo ou leme', cujo étimo é desconhecido, ignorando-se mesmo qual das acepções é a primordial, e até se serão o mesmo vocábulo, ou formas convergentes, homeótropos»; em segundo lugar, há três hipóteses de origem da palavra portuguesa: 1.ª – origem americana, de acordo com o Dicionário da Academia Espanhola; 2.ª – origem turca (cibuq), passando para português por intermédio de povos cafriais; neste caso: «A aceitar este étimo, teríamos de supor ainda que o nome nos viria por intermédio de povos cafriais, em que o prefixo ka é diminutivo, e se desse a nasalização do b, kacimbu, com supressão da consoante final, e deslocação do acento para a penúltima sílaba, como é próprio dessas línguas»; 3.ª – origem africana (quimbunda, segundo G. Friederici, ou cafrial): em relação à origem cafrial, conforme o mesmo Gonçalves Viana (apud J. Pedro Machado), «teríamos (...) de supor uma forma cafrial kajíngu, que ao passar a português tivesse sofrido a anormal mudança do g em b, modelada portanto por outra palavra, também cafrial carimbo (...). As outras acepções de cachimbo seriam, em tal hipótese, evolução de significado, a não ser (…) que a palavra jíngu tenha outros significados nessa língua dos cafres».