A palavra bóia-fria está dicionarizada (no Aurélio ou no Michaellis) há pelo menos 15 anos e já é utilizada hoje como um vocábulo comum, não só pela imprensa, em geral, mas até mesmo pelos acadê(é)micos.
Ao publicar o seu primeiro grande estudo sobre o tema em 1975, O "Bóia-fria": Acumulação e Miséria (Petrópolis: Ed. Vozes, 6.ª edição, 1978; 1.ª ed.: 1975), Maria Conceição D'Incao e Mello empregou aspas. Nove anos depois, a autora as dispensaria em Qual é a Questão do Bóia-fria (São Paulo: Ed. Brasiliense, 1984), revelando assim que o discurso formal já aceitava os bóias-frias sem restrições.
Os documentos oficiais, no entanto, ainda não permitem que eles andem completamente à vontade pelos textos formais. A instrução normativa n.º 84 do INSS, de dezembro de 2002, por exemplo, fala de trabalhador volante, mas esclarece, entre parênteses, que este não passa de um bóia-fria. Duas linhas depois, no mesmo item, a palavra reaparece sem que seja precedida pelo termo mais formal:
«c) o trabalhador volante (bóia-fria) que presta serviço a agenciador de mão-de-obra, constituído como pessoa jurídica, observado que, quando o agenciador não estiver constituído como pessoa jurídica, o bóia-fria e o agenciador serão considerados empregados do tomador de serviços».
Num discurso que se queira absolutamente formal, a palavra sempre pode ser usada entre aspas ou da forma como o INSS o fez. Num discurso informal, não precisaria da fatiota das aspas. Como se sabe, o bóia-fria tem uma flexibilidade ainda maior que a dos discursos.