É muito interessante a sua dúvida. Permite algumas reflexões irreverentes.
Efectivamente, os vernaculistas recomendam biopsia ¦pssía¦, por obediência ao som do étimo (Vocabulário da Academia das Ciências de Lisboa, Rebelo Gonçalves, dicionários: Editora, Universal da Texto). Julgo, porém, não errar muito se disser que mais de cinquenta por cento dos médicos em Portugal pronuncia ¦bió¦ (como proparoxítona aparente). E julgo que será também este o motivo por que o excelente dicionário brasileiro Aurélio já apresenta a grafia `biópsia´, como variante fónica de biopsia.
Quanto a biótipo, neste caso a pronúncia correcta é mesmo como proparoxítona. Ora acontece que, neste termo, grande parte das comunidades cultas, quer em Portugal quer no Brasil, pronuncia ¦biotípo¦, como paroxítona (Aurélio indica que biótipo é a grafia correcta, mas que se usa correntemente `biotipo´ no Brasil).
Há entre biopsia e biótipo uma curiosa indiferença das comunidades cultas pelas recomendações dos vernaculistas, parecendo até serem `do contra´, como diz o povo. Em biopsia, preferem a palavra esdrúxula, quando não o devia ser; em biótipo, que devia ser esdrúxula, não a aceitam assim, e preferem-na grave.
É um fenómeno semelhante ao que se passa com termóstato, grafia correcta, que se transformou em `termostato´ entre os técnicos; é igualmente um fenómeno semelhante ao azimute, que já ninguém pronuncia ¦zí¦ e ao míope que ninguém diz ¦mió¦… Enquadra-se na polémica entre Cleópatra e `Cleopatra´, entre Heraclito e `Heráclito´... Deixa alguma dúvidas sobre a indispensabilidade de acentuação das proparoxítonas.
Qual o meu conselho? Na pronúncia, seguir os hábitos generalizados da comunidade culta respectiva; mas, na escrita, usar os termos considerados correctos. Por exemplo, dizer ¦biópssia¦ e ¦biotípo¦ quando for esse o hábito, para que não se pareça petulante ou anacrónico; mas escrever biopsia (sem acento) e biótipo (com acento). De viva-voz e ante uma observação purista, é sempre possível justificar os nossos conhecimentos; mas na comunicação escrita nunca se sabe o que irão dizer depois (nas nossas costas, também como diz o povo; como, por exemplo: «Ele nem português sabe…»).
Ao seu dispor.