Não é possível, em resposta breve, fazer um curso sobre matéria que tantos tem preocupado, desde Aristóteles. Mas é-nos fácil perceber que alguém se exprime, dá informações e constrói um universo: esse narrador dirige-se a um destinatário (leitor, narratário) e, pelo discurso, configura um universo diegético, que é mais do que a simples história. Categoria decisiva no processo é a personagem, que convém entender e caracterizar, desde o nome e sua localização num tempo e num espaço, a estudar, igualmente. Os sujeitos sofrem, entretanto, transformações: estão em acção – eventualmente, com intriga, a caminho de um desenlace – e o modo como as respectivas sequências se agrupam na narrativa leva-nos a falar em encadeamento (o acontecimento final de uma inicia outra sequência), encaixe ou enclave (um acontecimento sequencial origina tríade de funções) e emparelhamento (em função do ponto de vista que escolhemos: do bom, do mau, etc.). Mas também é possível classificar as intrigas (Friedmann referiu 15 tipos), algumas das quais podem coexistir: a de um policial é diferente da de um romance em que se conta a vida de um fracassado – seria, além, uma intriga de acção e, aqui, de degeneração; etc.
A enunciação, entretanto, não pára: há um modo peculiar de contar o tempo (segundo uma certa velocidade, ordem, frequência) e a voz que fala e/ou conta concede-se uma maior ou menor distância narrativa, cuja focalização nos dá uma perspectiva das coisas. Ao lermos uma história, ela é oferecida de três maneiras principais: por focalização omnisciente (conhecemos tudo: o narrador é sem limitações, um pequeno deus no seu mundo a criar), interna (de dentro da personagem, da sua consciência) e externa (só conhecemos o visível). Quanto aos agentes, ou sua relação com a história, o mais comum é vermos o primeiro caso contado na terceira pessoa: esse narrador chama-se heterodiegético; mas se o narrador carreia experiência passada que o faz também personagem, diz-se homodiegético; já protagonista da história que narra, é autodiegético. E não compliquemos mais estas situações narrativas...
N.E. - Esta é uma pergunta que ultrapassa em absoluto o âmbito do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Pela última vez, e só graças à generosidade do Prof. Ernesto Rodrigues, abrimos esta excepção.