Em primeiro lugar, necessita definir bem o âmbito do problema, como se recomenda sempre. Presumo que pretende fazer uma argumentação e não uma dissertação. Numa dissertação, o objectivo é expor ideias em que não há opiniões divergentes conhecidas (ex. de tema: `A Terra gira à volta do Sol.´). Numa argumentação, emitimos uma opinião, sabido que há outras diferentes. O que distingue a argumentação é justamente haver divergências, e nós pretendermos influenciar e convencer (ex. de tema: `Na Aldeia Global, o novo acordo ortográfico seria útil para a lusofonia.´).
Podemos, em resumo, seguir depois os seguintes passos:
- Tema - Iniciar com uma proposição sucinta, que exprima exactamente a opinião que vamos defender, sem ambiguidades.
- Defesa dessa proposição, definindo limites e aceitando preliminarmente princípios de outras opiniões que não contrariem a nossa (ou elogio pessoal sobre quem vamos contraditar...). Usam-se então expressões como: `em parte é aceitável, mas´ ..... Depois refutação, ponto por ponto e uma por uma, de todas as opiniões que se opõem à nossa. Nesta refutação, é necessário apresentar dados concretos. A escolha dos factos indesmentíveis, dos exemplos práticos conhecidos, dos dados estatísticos fiáveis deve ser feita por forma a que se estabeleça, sem dúvidas, `a evidência do que afirmamos´ (contra factos não há argumentos). E é preciso muito cuidado nesta escolha, pois a argumentação contrária tende a centralizar-se nos factos duvidosos, para solapar a `base da estrutura´ da nossa tese.
- Conclusão - Como se deve fazer sempre também, não esquecer de voltar ao tema, para concluir a argumentação. E não se trata de repetir simplesmente a proposição, mas expô-la agora, embora sucintamente, mais enriquecida com a síntese de alguns dos argumentos referidos na fase 2. Apresente esta conclusão duma maneira clara e convicta. Usam-se então expressões do tipo: `por todas as razões apontadas, eu estou firmemente convencida/o de que .....´ E a ética recomenda que se esteja mesmo convencida/o... Os especialistas da `inverdade´ conseguem parecer convencidos quando não o estão, mas para quem não tem esse talento ou disposição moral, lembro que a convicção genuína empolga e contagia (como já escrevi noutra resposta, entusiasmo vem do grego `enthousiasmós´, que significa inspiração divina).
Consulente Paula, estas são as bases do texto argumentativo; e eu podia ficar por aqui. No entanto, não resisto a dar-lhe mais um conselho, fruto da minha experiência.
Vencer uma argumentação tem um objectivo. Claro que pode ser, unicamente, dar satisfação ao nosso ego, por ter vencido. Mas o trabalho de argumentar tem frequentemente fins mais pragmáticos: pretendemos que seja realizada alguma coisa. E, então, é indispensável uma última e fundamental fase. Se tivermos conseguido convencer com a nossa argumentação as pessoas que nos julgam, ou a assembleia que nos ouviu pelos votos que deu, não devemos preparar só a argumentação; mas, sim, pensar como é que o nosso objectivo pode ser realizado. Se há uma grande probabilidade de que os nossos argumentos irão convencer, esse passo pode ser incluído no texto, e, até, trazer-nos mais apoiantes: - Acção - Indicar, afinal, o que é necessário ter (meios) e fazer (trabalhos) para realizar o que defendemos. Mas não esquecer de propor datas para essa realização e, eventualmente, o plano das suas fases. Incluir a forma de verificar e corrigir atrasos. Finalmente, numa fase posterior, pedir responsabilidades e considerar penalidades a atribuir, se indispensáveis.