Ora essa, não tem que pedir desculpas. Como se pode ler no sítio oficial do Ciberdúvidas, «ter dúvidas é saber». Por isso, é este o local certo para o fazer.
Esta constatação não anula, porém, como é evidente, a complexidade das questões apresentadas. Tentarei, ainda assim, ser o mais claro possível na minha exposição, alertando de antemão o caro consulente para a dificuldade de tal tarefa.
O enunciado proposto pelo consulente contém uma oração completiva (ou integrante, na tradição gramatical luso-brasileira) não finita (isto é, que apresenta o verbo no infinitivo, flexionado ou não flexionado — neste caso, estudarem ou estudar), selecionada pelo verbo declarativo de ordem1 permitir: «estudar/estudarem Português».
Posto isto, será ainda fundamental percebermos que o sujeito da oração completiva em análise — estudar(em) Português — não se encontra lexicalmente realizado, sendo que o sujeito da oração superior — «Eu permiti aos alunos» — é, evidentemente, «Eu».
Assim, quando uma oração completiva com as características aqui elencadas «ocorre como complemento de um verbo [neste caso, a completiva «estudar(em) Português» é complemento direto do verbo permitir — «Eu permiti isso aos alunos»/«eu permiti-o aos alunos»], o seu sujeito sem realização lexical tem usualmente a sua referência fixada por um dos argumentos do verbo da frase superior» (Mateus e outros, op. cit. p. 632). A este tipo de construção chamam Mateus e outros «de controlo».
Deste modo, «quando é o sujeito da frase superior, lexicalmente realizado ou não, que controla a referência do sujeito foneticamente nulo da completiva de infinitivo não flexionado, a construção denomina-se de controlo de sujeito, ex.: [Os professores]i pensam [[-]i concluir a avaliação na próxima semana].»; «quando é o objeto direto da frase superior que fixa a referência do sujeito sem realização lexical da completiva de infinitivo não flexionado, a construção denomina-se de controlo de objeto [...] ex.: [Os professores]i autorizaram [os alunos]j a[[-]j realizar o teste durante as férias de semestre]»; «verbos declarativos de ordem podem entrar em construções de controlo de sujeito (1) ou de controlo de objeto indireto (2):
(1) [Os miúdos]i pediram [aos pais]j [para [-]i acampar no próximo fim de semana].
(2) [Os pais]i disseram [ao Pedro e à Maria]j [para [-]j chegar(em) cedo a casa]» (Mateus e outros, op. cit., pp. 632-633).
Tendo em conta, portanto, estas considerações, concluímos que o enunciado proposto pelo consulente é enquadrável na tipologia do analisado em (2), isto é, trata-se de um caso claro de controlo de objeto indireto:
«[Eu]suj permiti [aos alunos]CI [[suj. sem real. lexical] estudar(em) Português]»
logo,
«[Eu]i permiti [aos alunos]j [[-]j estudar(em) Português].
Desta forma, posso já responder à terceira pergunta (e única que me falta responder) do consulente: o verbo permitir é aqui utilizado em contexto bitransitivo (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo e Dicionário Houaiss, por exemplo), como verbo transitivo direto e indireto (Dicionário Terminológico), ou ditransitivo (Mateus e outros, op. cit., p.296): «Eu disse-lho».
1 Pertencem a esta classe verbos como ordenar, pedir, rogar, suplicar, consentir, exigir, permitir.(Mateus e outros, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2003, pp. 601 e 609).