1 – O verbo ambicionar é transitivo directo. Quer isto dizer que não admite a preposição entre si e o complemento directo. Portanto, quem ambiciona... ambiciona alguma coisa. Aproveitando o exemplo da pergunta: «Ambicionar ser qualquer coisa.»
2 – Não é pacífica a utilização de porque ou de por que no caso concreto.
No Brasil, não há dúvidas. Só uma forma é considerada correcta: a que emprega o advérbio interrogativo por que. Desse lado do Atlântico, porque nunca é mais que conjunção explicativa ou causal.
Em Portugal, o porque é também advérbio interrogativo, pelo que é permitido o seu emprego numa frase como a que nos é apresentada. Mas há também por cá muito conceituada gente a defender apenas a mesma forma que se usa no Brasil, como os autores da consagradíssima Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, e o reputado Rodrigo de Sá Nogueira, que, no seu Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem, diz assim, na entrada Porque?:
«Oficialmente está estabelecido que se escrevam pegados os dois elementos que entram na constituição desta forma, isto é, considera-se ali uma unidade mórfica. Quanto à sua classificação, diz Gonçalves Viana no seu Vocabulário, “conjunção enunciativa e interrogativa”; Rebelo Gonçalves, Vocabulário da Academia (1940), diz: “conj. caus. e adv. interr....” – Visto que oficialmente a doutrina exposta é que vigora, aconselho o leitor a segui-la. Contudo, não resisto à tentação de registar aqui a minha discordância dela, com o devido respeito aos dois insignes filólogos, que do assunto se ocuparam. – Não vejo que na frase, por ex., “porque não vieste ontem?”, aquele porque seja uma conjunção, nem que seja um advérbio: uma conjunção é um elemento que liga, que une, que junta, que conjunta duas orações ou duas partes da mesma oração, no seu aspecto formal (não no seu aspecto sémico, pois que ela pode ser adversativa, disjuntiva, etc.), e na frase supra não vejo que porque? conjunte quaisquer coisas. Por seu lado, um advérbio é um qualificativo, digamos assim, de um verbo, e é, por assim dizer, um adjectivo de um verbo, e na frase supra não vejo que a forma porque? esteja a qualificar o verbo vieste. – Para mim, aquele porque? não é uma palavra autónoma, uma unidade mórfica, e, por isso, não se deviam escrever pegados os dois elementos que o constituem. Para mim, a grafia correcta deveria ser por que?, porque (conj. caus.) vejo ali uma frase elíptica: naquela frase está elidido o substantivo razão ou motivo. – A frase “por que não vieste ontem?” está em vez de “por que razão ou por qual razão ou motivo não vieste ontem?”. – Agora, pergunto eu: “por que razão se hão-de separar os dois elementos quando aparece o substantivo razão ou motivo, e se não hão-de separar esses elementos quando se elide esse substantivo?” “Por que razão se há-de escrever ‘porque não vieste ontem?’, com o porque pegado, e ‘por que razão não vieste ontem?’, com o por que despegado?”.»
Só para efeitos de estatística, o muito menos ilustre coca-bichinhos que assina estas linhas também prefere a forma despegada.