DÚVIDAS

Ainda o género dos nomes dos países e das cidades

Em anterior questão feita por outro consulente, que pretendia saber o que indicava o “género dos países e cidades” (ou o género do nome dos países e cidades, conforme vossa correcção) a resposta acabou por ser, na minha opinião, inconclusiva. Apresentaram exemplos de nomes de países e cidades com género masculino, feminino e ainda, segundo vossa opinião, sem género.

Mais do que saber mais em relação àquilo que o anterior consulente realmente perguntava, pergunto-vos: porque dizem que se trata de nomes sem género?

Timor, Portugal, Évora ou Braga não são acompanhadas de artigo, é certo, mas dizemos “Portugal é bonito” ou “Faro está cheio de turistas”, não? Assim como diremos que “Israel diz-se pronta a discutir termos do acordo” ou que “Braga é acolhedora”.

(O interesse por esta questão surgiu aliás no título de uma peça que acabo de ver num jornal: “Israel diz-se pronto para discutir muro de separação”. Formalmente correcto ou errado?)

Obrigado.

Resposta

Na Língua Latina, havia inicialmente dois géneros: animado e inanimado.

Com a evolução, a Língua Latina passou a três géneros: masculino, feminino e neutro.

Nas línguas novilatinas, o género masculino e o género feminino absorveram a maior parte das palavras de género neutro.

As gramáticas da Língua Portuguesa já não falam do género neutro. Apenas falam de palavras invariáveis, como por exemplo: isto, isso e aquilo, que pertenciam ao género neutro.

Curiosamente, muitos topónimos não têm género ou hesitam no género.

Os topónimos que não são acompanhados de artigo definido tendem normalmente para a concordância com o masculino. Como, aliás, acontece com os pronomes demonstrativos isto, isso, aquilo, que, embora invariáveis, concordam com o masculino. Exemplo: «Aquilo é bonito».

Deste modo, Timor e Portugal, embora sem artigo definido, são acompanhados de adjectivos do género masculino.

Há nomes de países cuja vogal final é a letra a. Colocamos normalmente no género feminino, com algumas excepções como o Gana, o Sri-Lanka, o Canadá.

Quando a letra final não é a, vemos que a tendência é para o masculino. Por isso, Israel, embora sem artigo definido, concorda com adjectivos do género masculino. Para reforçar esta escolha, note-se ainda que Israel é um nome próprio masculino.

Devido à grande interferência da Língua Inglesa, da Língua Francesa e da Língua Espanhola nos meios de comunicação social e ao trabalho apressado dos jornalistas e dos tradutores, todas as confusões são possíveis, nomeadamente o género dos nomes dos países ou das localidades.

Recordamo-nos de já ter lido, numa revista de Língua Inglesa, Israel ser referido no feminino singular. O que aliás está de acordo com uma regra da Língua Inglesa: «os nomes de países e de cidades podem personificar-se e, quando tal sucede, atribui-se-lhes o género feminino».

Lendo a frase «Israel diz-se pronta...», ficamos logo a prever que o texto original foi escrito na Língua Inglesa.

Em relação ao nome das localidades e às concordâncias de género, existe uma norma prática. Se o nome da localidade é simultaneamente um substantivo comum, então o nome da localidade tem o género desse substantivo comum.

Exemplos: «Vou ao Porto», «vivo na Guarda», «sou da Figueira da Foz», « fui à Foz do Arelho».

Se o nome da localidade não corresponde a um nome comum, então a tendência é para não atribuir género.

Na Galiza há vários locais com o nome de Faro porque esta palavra significa farol. A cidade de Faro, no Algarve, tem o seu nome ligado a uma família árabe que foi possuidora daquela região. Como não há ligação à palavra faro, como sinónimo de farol, esta cidade não fixou o género, mas a vogal final o ajuda para a concordância com os adjectivos no masculino.

De igual modo, Évora e Braga atraem os adjectivos femininos, pelo facto de os nomes destas localidades terminarem na letra a.

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