Quando falei em metáfora, não me estava a referir à metáfora literária mas ao fenómeno geral em que esta se enquadra. Segundo muitos linguistas, a metáfora linguística é um processo cognitivo e linguístico que permite representar uma realidade tomando por modelo uma outra.
Em relação a tal interpretação metafórica da realidade, salientam-se diferenças entre línguas, mesmo entre as geneticamente próximas ou as que estão há muito tempo em contacto. Ficando apenas pelo exemplo de «fazer anos», vemos que em inglês um aniversário não é visto como perfazer nem completar algo: trata-se de um dia («today is/it's my birthday» = literalmente, «hoje é o meu dia de nascimento»; este acontecimento também pode ser encarado como um movimento que descreve uma curva, esta, sim, ligada à metáfora do círculo aplicada à sequência de 365 dias: «he has turned 50» = literalmente, «virou 50 anos», ou seja, «completou 50 anos».
Não é, portanto, conceptualmente óbvio que «fazer anos» seja «executar ou produzir 50 ciclos de 365 dias»; em vez disso, pode muito bem ser um modo possível mas histórica e culturalmente específico de interpretar a passagem do tempo como uma tarefa ou como o resultado desse processo. Por isso, faz todo o sentido que em português alguém faça e, consequentemente, tenha 50 anos. Fique-se porém com a noção de estas expressões serem resultado de uma metaforização que pode não ser a mesma noutra língua: basta lembrar os casos apontados para o inglês.