A vocalização do /l/ a fechar sílaba deve ser fenómeno antigo nos dialectos do Brasil e, em muitas regiões, deve ser anterior aos anos 50 do século passado. Com efeito, ouvindo no YouTube a pronúncia cantada de arquivos antigos de filmes, nota-se que Francisco Alves (filho de portugueses) e Cármen Miranda (também filha de portugueses), interpretando Sonho de Papel, pronunciam l final, mas Mário Reis, interpretando Teatro da Vida numa sequência do filme Alô, Alô, Carnaval (1936), já parece vocalizar essa consoante.
Note-se que, em diferentes línguas, não é invulgar que o l que fecha sílaba, se a articulação for velar, passe à semivogal velar [w]. Além disso, em português europeu, o /l/ que trava sílaba já é velarizado, sendo representado pelo símbolo [ɫ]: alto, [ˈaɫtu]; mal, [maɫ]; a vocalização da consoante assim articulado é uma evolução previsível. Ivo Castro, na Introdução à História do Português (Lisboa, Edições Colibri, 2006, pág. 230), refere-se a esse facto:
[...] [N]as palavras acabadas em -al, -el, -il, ol1, a consoante final soa velarizada em Portugal [ɫ], mas no Brasil a sua abertura progrediu e está transformada numa semivogal, pelo que aquelas terminações soam [aw], [ɛw], [iw], [ɔw].
1 Também em -ul: azul, [aˈzuw].