É muito arriscado, em determinadas circunstâncias, emitir-se uma opinião acerca do português sem se especificar qual é a variante a que, potencialmente, uma dada frase pode pertencer. Com efeito, para além de outras menos estudadas, há duas variantes: aquela que, por convenção, se designa Português Europeu (PE) e aquela que, pela mesma convenção, se designa Português do Brasil (PB). Do ponto de vista normativo, a frase em apreço infringe a norma dessas duas variantes. Essa infracção nada tem, porém, a ver com a preposição por, que está utilizada de forma adequada.
Efectivamente, o uso da preposição por, tal como da preposição a, está previsto na estrutura do verbo agradecer. Na frase «Agradeço a prenda ao Manuel», o verbo ocorre como transitivo directo (a prenda) e indirecto (ao Manuel). Por seu lado, na frase «Agradeci ao Manuel pela ajuda» o verbo é transitivo indirecto (ao Manuel) e oblíquo (pela ajuda). O complemento circunstancial introduzido pela preposição por (pela = por + a) tem valor causal. Na frase «Agradeci ao Manuel por me ajudar», a preposição introduz uma oração subordinada completiva (ou integrante) infinitiva, veiculando, igualmente, um sentido causal.
Demonstrada a utilização adequada da preposição por, vejamos agora porque considero que a frase não está rigorosamente construída em nenhuma das variantes, apresentando, pelo contrário, características das duas. Na frase que a consulente submete à nossa apreciação há dois pronomes possessivos, que sublinho na transcrição da frase: «(...) com o objectivo de agradecer-vos a confiança depositada no nosso projecto, bem como por vossa inestimável colaboração.» Ora se há aspectos em que o Português Europeu diverge do Português do Brasil, é precisamente o uso dos pronomes (ou determinantes) possessivos. Com efeito, os possessivos em PE são, geralmente, antecedidos de artigo: o meu, o nosso, o vosso, o seu. Já no PB se usam sem artigo.
Se analisarmos bem a frase, veremos que cada um dos possessivos que a integram está construído segundo uma norma diferente: PE – no (no = em + o) nosso; PB – por vossa. Se se pretende que a frase constitua um produto do PE, escreva-se: «(...) com o objectivo de agradecer-vos a confiança depositada no nosso projecto, bem como pela vossa inestimável colaboração». Se, por outro lado, ela deve integrar um texto próprio da norma do PB então opte-se por: «(...) com o objectivo de agradecer-vos a confiança depositada em nosso projecto, bem como por vossa inestimável colaboração.»