Como a frase é iniciada pelo conector porque, que, geralmente, introduz uma oração subordinada causal ou uma coordenada explicativa, é natural que o consulente tenha dúvidas sobre a correcção da colocação de vírgula após a expressão «Porque a escumalha», procurando, deste modo, evidenciar a ênfase dada à palavra «escumalha».
De facto, entre uma oração subordinada causal e a oração principal coloca-se a vírgula, demarcando o motivo/a razão da consequência. Mas, na realidade, nesta frase não há duas orações. Ela é uma frase simples, constituída por uma só oração e, portanto, não se pode recorrer a essa norma para se justificar a utilização da vírgula.
Para além disso, não se pode colocar uma vírgula entre o sujeito e o predicado. E, nessa frase, o sujeito é «a escumalha», e o predicado (nominal) é «é escumalha». Enquanto sujeito, a palavra «escumalha» é um nome/substantivo, ao passo que, como predicativo do sujeito, «escumalha» é um predicador de natureza adjectival, pois aqui essa palavra é usada com um adjectivo qualificativo, associada a uma leitura subjectiva do emissor sobre o sujeito.
Se se dissesse «Porque a escumalha é-o todos os dias», não se colocaria a questão da vírgula.
Penso que essa dúvida se deve também à entoação dada, às pausas que se fazem, quando essa frase é dita, pausas essas que querem enfatizar o valor negativo/depreciativo da palavra «escumalha».
Por outro lado, esta frase tem todas as características de um discurso oral, o da fala de alguém que defende uma opinião, ou como resposta a algo que lhe foi dito, ou como uma tese ou ideia que estava a defender, o que leva a que se pense que se justifica o uso da vírgula, como marca que reproduza as pausas que se realizam.