Já aqui foi abundantemente salientada a já clássica – mas erradíssima – colocação da vírgula entre sujeito e verbo. No entanto, não posso deixar de voltar a chamar a atenção para o grau assustador de expansão e de enraizamento que tal prática atinge.
Quem visitar, por exemplo, o magnífico Museu da Farmácia, na freguesia de Santa Catarina, em Lisboa, frequentado por centenas (ou até milhares) de estudantes todos os anos letivos, verificará que esta relíquia sintática assombra, de forma leviana, todo o referido espaço, gerido pela Associação Nacional das Farmácias. Repare-se, apenas a título de exemplo, em duas dessas ocorrências:
(1) «A Grécia, é a principal herdeira dos povos antes mencionados.»
(2) «Galeno (331-200), teve como base a medicina […]»
Repito: o Museu da Farmácia é um espaço com uma forte vertente pedagógica, frequentemente visitado por estudantes de escolas de Portugal inteiro, sendo que este injustificável desleixo linguístico se mantém – posso comprová-lo por experiência própria – há pelo menos três anos.
E, já agora, podiam os responsáveis por este museu também corrigir, a talho de foice, o não menos clássico, mas igualmente acarinhado, á que se encontra espalhado um pouco por todo o referido edifício:
Ex.: «Da fábrica celular á ovelha Dolly.»
Assim, de facto, é muito difícil.
Cf. 5 bons motivos (e 10 regras) para usar corretamente a vírgula
N.E. – O não uso da obrigatória vírgula no vocativo – seja quando ela representa um chamamento, um apelo, uma saudação ou uma evocação* – generalizou-se praticamente no espaço público português, dos órgãos de comunicação social à publicidade .Por exemplo, aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui. Uma incorreção várias vezes esclarecida no Ciberdúvidas – vide Textos Relacionados, ao lado –, assim como noutros espaços à volta da língua portuguesa.
Cf. entre outros registos: Vocativo + Vocativo: uma unidade à parte + O uso da vírgula no vocativo, Vocativo – uma questão de vírgula + A vírgula do vocativo – Exemplos de vocativo no início, no meio e no fim da frase + 5 bons motivos (e 10 regras) para usar corretamente a vírgula.
* Por regra, no discurso direto e, geralmente, em frases imperativas, interrogativas ou exclamativas.