Vamos raciocinar por partes, nesta difícil pergunta: Multiplicativo (aumentativo), como por exemplo `duplo de´, representa o resultado da multiplicação por um certo número. Ora um resultado zero fica sem sentido na definição de soma de parcelas iguais que se dá à multiplicação. Fraccionário [fracção de outro], como por exemplo `um quarto de´, representa o resultado da divisão por um certo número. Ora não se consegue um número finito que dê um resultado zero na divisão de outro número finito. Como se sabe, convenciona-se que a divisão por zero é um valor infinito. Ordinal, como, por exemplo, sexto, representa a ordem que um ser ocupa num conjunto de seres. Ora, mesmo numa numeração dada a um conjunto de seres que se inicia com o numeral zero, esse ser é o primeiro. Concretamente, não existe, numa ordenação material, um ser antes do primeiro. Cardinal. Zero não aparece na lista dos cardinais das gramáticas. É, no entanto, esta a designação com que é normalmente definido: `um cardinal que representa um conjunto vazio´. Eu digo: `vazio de´ [alguma coisa], pois não consigo conceber um `nada seja do que for´, que considero uma abstracção mental. Se, porém, não o considerarmos um numeral, mas um sinal ou um símbolo, então o zero aparece com outras significações. Sinal. Indica o início de uma contagem (por exemplo, numa escala graduada). Símbolo. Quando representa o produto por dez num cardinal com um número certo de dezenas (ex.: 100 = 1 × 10 × 10). Convenciona-se que o primeiro zero faz avançar a contagem dos números seguintes para as dezenas, que o segundo zero faz avançar a contagem dos números seguintes para as centenas, etc. O raciocínio é válido para as décimas, nas quais o produto é por 0,1 (ex.: 0,01 = 1 × 0,1 × 0,1). Concluindo, lembro que a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, citando Pelseneer, indica que a invenção do zero «é um dos actos mais audazes do pensamento humano, uma das maiores aventuras da razão. A data desta invenção talvez seja a dos primeiros séculos da era cristã. Ao seu dispor,