Fico na dúvida, prezada consulente, se, para si, mas estabelece sempre uma relação de adição, ou se restringe essa interpretação ao exemplo que cita.
Partindo do princípio de que é o exemplo que cita que lhe causa problemas de interpretação, devo dizer, antes de mais, que as frases, ou, melhor, os enunciados, se atualizam em contexto, podendo, à falta dele, como é o caso do exemplo em análise, cada falante imaginar um determinado contexto que atualize ou reformule a interpretação.
Por outro lado, e da mesma forma, as respostas dadas neste espaço nem sempre podem ser interpretadas fora da questão que as desencadeou. E a questão-base da resposta a que os exemplos pertencem insere-se numa tentativa de explicitar em que situações pode uma adversativa transformar-se numa concessiva, ou vice-versa. Nesse contexto, os exemplos (5), (6) e (7)
(5) «O João não foi ao cinema, mas ao teatro.»
(6) «Ela era bela, mas, principalmente, rara.» In Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 580
(7) «Vim, vi, mas não venci.»
não me parecem, independentemente do valor veiculado, passíveis de dar lugar a uma frase complexa em que se estabeleça uma relação de subordinação concessiva em vez de uma relação de coordenação adversativa.
Por isso se diz que nesses exemplos só é possível a adversativa — por não ser possível a concessiva. Talvez uma das razões que impedem o uso da concessiva seja o facto de o sentido veiculado poder não ser o prototípico da adversativa, como é o caso do exemplo (6), que veicula, e aí estamos de acordo, um sentido de adição, ou copulativo. E, por isso, no mundo da coordenação, esta adversativa até poderia ser copulativa: «Ela era bela e, principalmente, rara.»