Da pesquisa que fizemos sobre «cursivo», verificámos que se trata de «forma de letra manuscrita», «letra que se faz, correndo a letra sobre o papel» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010), «o modo corrente de escrever, a caligrafia» (Grande Dicionário Etilmológico Prosódico da Língua Portuguesa, de Silveira Bueno, 1964). Este termo que deriva do latim medieval cursivu-, utilizado para se referir à escrita romana cursiva (também chamada de maiúscula cursiva ou capitalis cursiva), ou seja, «a forma quotidiana de escrita à mão, utilizada para cartas, por mercadores nos seus relatórios, pelos alunos que estudavam o alfabeto romano e até pelos imperadores nos seus despachos», uma vez que o estilo mais formal de escrita era baseado em maiúsculas quadradas romanas. O estilo cursivo era, portanto, utilizado para uma escrita mais rápida e informal, havendo notícias de que teria sido usado com mais intensidade do século I a. C. ao séc. III d. C.
A referência à escrita cursiva romana não surge por acaso, pois o alfabeto português resulta do alfabeto latino original. Ora, se a escrita cursiva corresponde à escrita à mão, conclui-se que o alfabeto — enquanto «o conjunto ordenado das letras de que nos servimos para transcrever os sons da linguagem falada» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, p. 63) — cursivo represente o alfabeto manuscrito, grafando as formas de cada uma das letras que são traçadas de forma corrente, imitando a maneira de escrever à mão, distinta da tipográfica, o que se pode verificar através do registo das imagens do alfabeto cursivo.
Estranha-se, por isso, que o consulente considere que o alfabeto cursivo só tenha sido ensinado nas escolas na altura em que frequentava o 1.º ciclo (primária), o que o levou a formular as questões que nos colocou. Parece-nos que há um equívoco entre a sua aprendizagem do alfabeto cursivo (que é o que todas as crianças aprendem) e algum novo método pedagógico introduzido, então, para o ensino/aprendizagem da leitura/escrita.
Há vários documentos que registam o uso do alfabeto cursivo em vários métodos de ensino/aprendizagem da leitura e da escrita, como o da Cartilha Maternal, de João de Deus, em que «os materiais produzidos pelos professores foram denominados Cartas do ABC, que traziam o alfabeto escrito de várias formas, valorizando a grafia. O método que se concretizava através desta cartilha era o método alfabético, o qual toma como unidade de análise o nome de cada letra. Nesse método, era utilizado o processo de soletração para decifrar a palavra» (Educação em Destaque: Cartilhas de Alfabetização; João de Deus: Método de leitura com sentido; Cartilha Maternal de João de Deus em alfabeto cursivo; Alfabeto com 4 tipos de letras cursivas).