Falperra é realmente o nome de serras das regiões portuguesas de Entre-Douro-e-Minho e Trás-os-Montes, bem como nome de lugar nas mesmas regiões (Amares, Fafe, Guimarães, Paços de Ferreira e Vila Pouca de Aguiar), no norte dos distritos de Aveiro e Viseu (Arouca, Castelo de Paiva) e ainda no Sul de Portugal, em Mourão (Alentejo). José Pedro Machado considera a sua origem obscura (Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa); e, rejeitando a hipótese de que derive de «Falsa Pedra», o lexicógrafo sugere «Fal(da) (da) perra», sem comentários.
Outra é a visão de A. de Almeida Fernandes (Toponímia Portuguesa, Arouca, 1999, pág. 288/289), que vê o elemento Fal- como evolução de palla, «abrigo rochoso» ou «edificação dolménica»1 e perra, como derivado do latim petrea, «de pedra». Falperra seria assim o mesmo que Palperra, forma que o referido autor não atesta, mas que permite presumir que fosse uma aglutinação de palla petrea, expressão pleonástica, já que significaria «abrigo rochoso de pedra».
A hipótese de Almeida Fernandes é plausível do ponto de vista semântico-referencial (as serras do Minho podem ser pedregosas e ter dólmenes), bem como no plano fonético, se pensarmos que, em posição inicial, há a alternância [p]/[f] quando comparamos dialectos portugueses e galegos: pechar (galego) ~ fechar (português). Mas a falta de abonações da passagem do hipotético *palla petrea a Falperra deixam por confirmar essa alternância e por explicar a queda do -a de palla.
1 Lembro que existe pala como substantivo comum, com várias acepções, mas veiculando geralmente a noção de algo que protege, por exemplo, da incidência directa da luz solar. Embora o Dicionário Houaiss indique que este vocábulo remonta, como pá, ao latim pāla, ae, Machado (op. cit., ver Pala) dá-lhe outra origem enquanto topónimo: «voc[ábulo] pré-romano, próprio de lugares alpinos e pirenaicos, com a acepção de "vertente lisa e muito inclinada"», documentado no século XII nas zonas portuguesas de Baião (Porto) e Penedono (Viseu). Actualmente, existem, na Galiza, Palas de Reis (Lugo, Galiza), e em Portugal, Palas (Vinhais, Portugal) e duas localidades de nome Pala (Mortágua e Pinhel, Portugal), acerca das quais não posso garantir uma origem comum.