É assaz interessante a questão que coloca, prezado consulente! Para nos ajudar a perceber o que os jornalistas pretendem dizer com a expressão «à margem», analisemos alguns exemplos retirados do corpus Cetempúblico: «(1) Ext 4988 (pol, 96a): A coincidir com esta deslocação, o ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Emre Gonensay, decidia anunciar em Ancara um próximo encontro com o seu homólogo turco, Theodore Pangalos, no próximo dia 27 em Bucareste, à margem de uma reunião sobre a Cooperação Económica do Mar Negro (CEN) , que inclui a Grécia e a Turquia . (2) Ext 5878 (eco, 97a): Este esclarecimento foi feito em resposta às perguntas dos jornalistas à margem de uma reunião dos ministros das Finanças dos Quinze e depois de as suas anteriores afirmações terem merecido grande cobertura da imprensa portuguesa, espanhola e italiana. (3) Ext 8815 (pol, 94b): O estatuto político a atribuir ao líder da UNITA será objecto de discussões directas entre o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, e Jonas Savimbi, previstas para a terceira semana de Novembro, à margem da cerimónia da assinatura dos Acordos de Paz. (4) Ext 8919 (pol, 93a): O recado do comissário foi transmitido aos deputados europeus membros do Intergrupo de Timor-Leste que se reuniu ontem em Estrasburgo à margem da sessão mensal do Parlamento Europeu, expressamente para ouvir o ponto de vista da nova equipa da Comissão Europeia sobre a questão.» Nos quatro exemplos citados, a expressão «à margem» pode ser interpretada de duas formas. Por um lado, dado que se insere numa informação acerca de eventos pontuais, normalmente marcados com antecedência e com agenda previamente combinada, é legítimo que valorizemos o tempo e por isso que se considere a expressão equivalente a «por ocasião de», como faz o consulente. Por outro lado, como se trata de um acontecimento com uma agenda prévia, é possível entender a expressão como fazendo referência a algo que aconteceu e não que estava previsto na tal agenda, ou seja, à margem – ou seja, para além – da agenda previamente estabelecida.Poderíamos especular aqui acerca da interpretação que, efectivamente, os jornalistas lhe dão. Poderíamos, mesmo, defender que, sendo os jornalistas falantes competentes, iriam centrar-se na segunda hipótese, única reconhecida como aceitável num discurso formal. Não creio, porém, que valesse a pena seguir por aí. Prefiro, reconhecendo a possibilidade de haver falantes que sentem a expressão como ambígua, aconselhar os jornalistas a, em contextos como os que são exemplificados de (1) a (4), utilizarem a sua criatividade linguística, ou talvez mesmo artística, e a encontrarem outra expressão que substitua «à margem».