O verbo operar, quando significa intervenção cirúrgica, tem uma sintaxe bastante interessante. Pode ser intransitivo («O médico opera bem») e transitivo directo («O médico operou a Maria»). Não encontrei qualquer registo que indicasse outra regência para o verbo, mas creio poder considerar-se «à perna» como um complemento preposicional de realização não obrigatória. Com efeito, este complemento – que, embora introduzido pela preposição a, não é indirecto, pois não pode ser substituído pelo pronome oblíquo lhe – está muito ligado ao próprio sentido do verbo, veiculando uma ideia de especificação, ou clarificação, da parte do corpo onde vai ser feita a intervenção. Analisemos o pequeno ‘corpus’ que se segue:
(1) A Maria foi operada à perna (pelo médico). – Passiva de (2)
(2) (O médico) operou a Maria à perna. – O médico operou-a à perna; *Operou-lhe a Maria.
(3) O médico operou a perna da Maria. – Operou-a.
(4) O médico operou a perna (direita) à Maria. Operou-lhe a perna; Operou-lha.
Comparando as frases (2) e (4) verificamos que o nome perna pode integrar um grupo nominal com função de complemento directo (4), ou um grupo preposicional (2). Substituindo a expressão «à perna» por lhe, verificamos que não se trata de um complemento indirecto, pois a substituição resulta numa frase agramatical. Por outro lado, em (3), a substituição do complemento «a perna da Maria» por um pronome gera uma frase ambígua, pois creio haver uma tendência para relacionar prioritariamente o pronome com «a Maria».
De qualquer forma, relativamente à questão concreta que o consulente apresenta, considero – seguindo a nova terminologia para os ensinos básico e secundário – trata-se, como já referi, de um complemento preposicional. Se utilizasse a nomenclatura anterior, diria que se trata de um complemento circunstancial.