A palavra pontapé é um caso curioso de palavra composta por justaposição (ver Maria Helena Mira Mateus et alii, 2003, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, pág. 980). A associação dos elementos ponta e pé sofreu um processo de lexicalização semântica, isto é, deixou de significar simplesmente «ponta do pé» para designar o toque dado com a ponta do pé.
Repare-se, no entanto, que a forma gráfica não apresenta hífen, pelo que a palavra constitui uma unidade gráfica. Deste modo, a sua constituição pode confundir-se com a das palavras compostas por aglutinação, como corrimão. A diferença está no facto de esta ter sofrido um processo de lexicalização que não só afectou a semântica dos termos constituintes (corre e mão), mas também a sua integridade fonológica (sobretudo visível no elemento corre).
Em relação a maremoto estamos perante um composto morfológico ou erudito, porque os seus elementos são raízes de origem latina (adaptadas ao português) que não têm existência autónoma (ver Margarita Correia e Lúcia San Payo de Lemos, Inovação Lexical em Português, Lisboa, Edições Colibri, pág. 38). Trata-se de uma palavra constituída por ‘mare’, «mar», e ‘moto’, «movimento».