No português normativo tanto de Portugal como do Brasil, mantém-se o contraste entre falar e dizer, que são verbos com comportamentos sintáticos diferentes:
a) falar é intransitivo («ele ainda não falou»), transitivo direto («falo português»)1 ou transitivo indireto («a Rita falou ao/com o João», «falou nisso», «falou disso/de ti», «falou sobre a atual crise»);
b) o verbo dizer é transitivo, podendo o complemento direto ter a forma de uma expressão nominal («A Joana disse um disparate») ou uma oração («ele disse que a Joana fez um disparate»).
No entanto, coloquialmente, mesmo em Portugal, é frequente achar ocorrências de falar associadas a orações completivas:
«Falou que, para chegar à maioria absoluta nas próximas eleições, é preciso arrepiar caminho em determinadas condições. Que condições são essas?» (jornal português Público, no Corpus do Português, de Mark Davies e Michael Ferreira)
Trata-se de um uso não aceite pela norma.
Quanto à progressiva substituição de dizer por falar, não encontro fontes que me facultem dados sobre a sua história.
1 Mário Vilela, em "A `cena´da «acção linguística» e a sua perspectivação por dizer e falar" (Revista da Faculdade de Letras "Línguas e Literaturas", XI, Porto, 1994, págs. 65-97), chama a atenção para o facto de esta construção não ser tipicamente transitiva, porque oferece restrições à transposição na voz passiva: *«inglês é falado por mim.»