DÚVIDAS

-Eis, éis

Gostaria de saber porque é que nos plurais de palavras oxítonas terminadas em "el", tais como "anéis" ou "papéis", o "e" leva acento agudo. Este acento parece-me desnecessário. Não serve para indicar a sílaba tónica, pois não poderia deixar de ser a última, mesmo que a palavra não levasse acento, visto que esta termina em ditongo seguido de s. Também não me parece que indique a pronúncia da vogal "e". Na fala do Brasil, o ditongo tónico "ei" pode ter o "e" aberto ou fechado, e é por isso que se escreve "ei" ou "éi" , consoante os casos (por exemplo, "meia", fechado, "idéia", aberto). No entanto, em Portugal não se faz distinção entre duas formas de pronunciar este ditongo, quando tónico, razão pela qual a nossa escrita também não apresenta essa distinção (escrevemos "meia" e "ideia", e o ditongo "ei" é lido da mesma forma nas duas palavras). Porquê, então, o acento gráfico nos plurais das palavras oxítonas terminadas em "el"? Tratar-se-á apenas de uma convenção instituída pelo hábito, ou há razões para isso que se prendem com a história da língua?

Resposta

   As normas portuguesa e brasileira exigem o acento nas palavras oxítonas (agudas) terminadas com som aberto ¦éi¦ (em Portugal, a regra já vem da Reforma de 1 911, não alterada em 1945; no Brasil, enquadra-se na recomendação da alínea 6.ª, da base XII). A justificação é a frequência da terminação de som ¦êis¦ nas flexões verbais (ex.: ameis, amareis, fazeis, fareis, etc.). Isto levaria, por exemplo, o falante a pronunciar ¦êis¦ em papeis, sem acento (como flexão verbal do verbo papar), em vez do plural de papel; que, por isso se deve escrever papéis. Estou de acordo consigo em que o contexto poderia desfazer dúvidas (ex.: se escrevermos `os papeis´, a ambiguidade desfaz-se). Sublinho que o projecto/projeto de acordo de 1986 acabava com o acento nestes casos. Mas foi maioritariamente condenado por ser excessivamente radical. As alterações na ortografia da língua devem ser sempre muito bem ponderadas, para não se criar uma diferença tão excessivamente drástica, que dificulte muito o falante entender-se nas ortografias anteriores. Nem tudo se adapta e é muitas vezes necessário ou edificante ler originais da época em que foram escritos. Por outro lado, uma alteração ortográfica representa sempre uma tal necessidade de adaptação, até económica/econômica em livros didácticos/didáticos que têm de ser substituídos, que, para se mexer, é bom que valha a pena. Isto é, só vale a pena fazer alterações profundas. A grafia proposta em 1 986 (salvo ousadias exageradas, que podiam ser corrigidas) não trazia grandes dificuldades de entendimento para quem estivesse habituado à norma de 1945. O acordo de 1 990, que pouca coisa mudou, não se impôs, por isso, como aperfeiçoamento. E o resultado, na explosão de conhecimentos actual/atual, é continuarmos na ortografia com uma norma base com mais de meio século e termos variantes ortográficas que não são legais em todo o universo da comum língua portuguesa.

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