Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Que significa o provérbio «cobra que quer morrer à estrada vai ter»?

Obrigada.

Resposta:

O facto de as cobras terem sangue frio, faz com que estas procurem estradas (normalmente de alcatrão) para se termoregularem. Contudo, este comportamento implica o risco de atropelamento sendo, portanto, fator de mortalidade desta espécie animal, daí o provérbio «cobra que quer morrer, à estrada vai ter».

Assim, num sentido figurado, e assumindo que cobra/serpente é sinónimo de maldade, este provérbio é utilizado com o significado de: «a maldade pode levar a extremos e comprometer as pessoas».

Pergunta:

Qual é a família de palavras de avião?

Resposta:

Avião tem como palavras da sua família1: aviação, aviador, aviãozinho, aviatório, aviacionismo, avioneta, aviónica hidroavião.

 

1 Uma família de palavras é o «conjunto de vocábulos cognatos, ou formados por composição ou derivação, partindo de um radical ou de uma palavra primitiva» (Dicionário Terminológico).

Pergunta:

Vivo em Lisboa, e ouço e uso muitas vezes o verbo assilhar. Já o procurei na Infopédia e no Priberam, mas não encontro.

É correto?

Resposta:

O verbo assilhar está registado em dicionários (de Portugal e do Brasil) como «verbo transitivo [com origem] provavelmente do Alentejo» e que significa «colocar, assentar, arrumar» ( Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea de Cândido Figueiredo).

Com o mesmo significado, encontramos o verbo em Dicionário de Falares do Alentejo (Vítor Fernando Barros e Lourivaldo Martins Guerreiro, Âncora Editora, 2013), grafado assilhar, enquanto, em A Linguagem Popular do Baixo Alentejo (Manuel Joaquim DelgadoBeja, 1951), figura com a grafia acilhar. Já a revista<...

Pergunta:

As marcas de bebidas alcoólicas podem ser colocadas no plural?

Obrigado.

Resposta:

É possível pluralizar o nome de bebidas alcoólicas em frases como: «quero dois bacardis» ou «quero duas cucas», mesmo Bacardi e Cuca sendo nomes próprios que correspondem a marcas de bebidas (no primeiro caso uma bebida espirituosa e no segundo, uma cerveja). 

Acontece que, nestes casos, os nomes próprios passam a designar o produto, copos  «dois copos de Bacardi» –, no primeiro caso, e cervejas – «duas cervejas Cuca» – no segundo. 

Esta situação é, claro, extensível ao nome de outras marcas que não de bebidas alcoólicas, como:

1. «comprei dois pantenes ontem» = «comprei dois champôs da marca Pantene ontem»;

2. «tenho dois audis». 

Note-se que, em qualquer dos casos, os nomes das marcas perdem a marca de nome próprio, a maiúscula.

Pergunta:

Qual o significado do seguinte provérbio: «porco e gado de bico não fazem o dono rico»?

Resposta:

Apesar de ser um provérbio menos conhecido – «porco e gado de bico1 não fazem o dono rico» , há registos semelhantes, por exemplo, na Infopédia: «ave de bico nunca fez dono rico», «focinho de porco e galinha de bico nunca fizeram o homem rico» e «gado de bico nunca fez ninguém rico».

A todos eles é aplicável uma interpretação de certo modo literal: «nenhum criador de aves enriquece facilmente, à exceção dos grandes industriais».Mas é possível atribuir-lhes leituras mais genéricas: «ter certos bens não é indicativo de uma vida desafogada» ou «ter a propriedade de alguma coisa pode não ser lucrativo».

 

1 Gado de bico é referência às aves domésticas que normalmente os agricultores têm: galinhas, patos, perus, etc. Cf. Infopédia e Dicionário Michaelis.

2 Interpretação de duas outras variantes – «gado de bico não deixa ninguém rico» e «gado de bico não faz o dono rico» – de Madeira Grilo, Dicionário de Provérbios (Município de Pinhel/Madiea Grilo, Guarda, p. 247). Outros dicionários de provérbios recolhem uma das variantes mencionadas nesta resposta: Maria Alice Moreira dos Santos,