Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na expressão «sujeito passivo», existe a forma própria no feminino, ou deverá ser usado também "sujeito passivo"?

Obrigado

Resposta:

«Sujeito passivo» («o sujeito passivo») é um conceito jurídico utilizado nas áreas do direito, da psicologia e da economia e não tem forma feminina, isto é, não é correto, nestas áreas, dizermos "sujeita passiva". O mesmo sucede com o termo «sujeito ativo» («o sujeito ativo»).

Por outro lado, se a expressão for utilizada em outros âmbitos que não os referidos – no registo informal e associando um tom entre depreciativo e pejorativo –, justifica-se o seu uso. Repare-se:

(1) «Aquela é uma sujeita passiva.»

Em (1) o que se pretende dizer é que há uma mulher que não toma a iniciativa, que obedece sem reagir, que nunca se revolta, que é paciente, indiferente ou inerte, e, por isso, o uso de sujeita no feminino – com adjetivo a concordar em género  é aceitável, ainda que em contexto informal.

Pergunta:

Mesmo pode ser um advérbio de quantidade e grau?

Por exemplo, na frase «Tu cantas mesmo bem».

Obrigada.

Resposta:

Mesmo é um advérbio de quantidade e grau no exemplo em apreço.

Em «tu cantas mesmo bem», mesmo ocorre como modificador do adjetivo bem, contribuindo com informação sobre o grau1. Note-se que, neste caso, mesmo é sinónimo de muito e, por isso, está a ser utilizado para a formação do superlativo absoluto analítico.

No Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (2001) da Academia das Ciências de  Lisboa, mesmo é classificado como advérbio2, ao qual, entre outros valores, se atribui o de «em grau elevado, de modo intenso, pleno», em sinonímia com muito e totalmente.

1 Cf. Dicionário Terminológico.

Pergunta:

Gostaria de saber qual o termo correto, em português, para designar o prato espanhol: "paella", "paelha" ou nenhum deles?

Obrigada.

Resposta:

Paelha é o aportuguesamento do prato espanhol paella – à base de arroz, carnes, marisco e legumes –, que, por sua vez, é uma designação com origem no valenciano (e catalão) (Dicionário da Real Academia Española). A forma paella também está atestada nos dicionários portugueses (ver Infopédia, por exemplo), mas, por se tratar da forma não portuguesa, deve ter o tratamento gráfico dado aos estrangeirismos: itálico ou entre aspas. 

Contudo, note-se que o prato espanhol deve o seu nome ao utensílio de cozinha onde se confeciona, também chamado paelha ou paella (frigideira com duas asas)1. A designação deste instrumento, por sua vez, tem origem mais antiga que o prato em si, no latim patella, «espécie de prato grande de metal» (Dicionário Houaiss). Também, com a mesma origem, encontramos em francês poêle, «frigideira» (ibidem).

1 Estamos perante uma sinédoque que se fixou na língua: o objeto é mencionado para nos referirmos ao seu conteúdo. 

N. E. (06/11/2022) – O dígrafo ll das ortografias espanhola, catalã e valenciana corresponde ao lh do português. Acrescente-se que, no valenciano e no catalão, a forma paella não é palavra patrimonial, isto é, não é palavra originária do latim vulgar que tenha passado diretamente aos dialetos catalães<...

Pergunta:

Comecei recentemente uma jornada académica concernente ao estudo do período subordinado. Em tese, sabe-se que as orações subordinadas adjetivas são introduzidas pelos pronomes relativos.

No entanto, fiz muitas pesquisas em gramáticas e achei muitos exemplos de orações subordinadas adjectivas iniciadas somente com os pronomes relativos que e quem!

Ora, gostaria muito de saber se outros pronomes relativos – onde, cujo, quanto, etc.  não devem ser empregados na construção das orações supracitadas ou se existem regras específicas.

Peço o vosso esclarecimento quanto à questão formulada.

Muito obrigado!

Resposta:

As orações subordinadas adjetivas (ou orações relativas) são, como refere o consulente, introduzidas por um constituinte que contém um pronome relativo, mas que não tem de ser necessariamente que ou quem

Ora, os pronomes relativos aceites nestas construções, além de que e quem (que corresponde a «aquele que»), são: qualcujoquanto, onde e como1.

Veja-se os seguintes exemplos:

1. «O rapaz que vi era loiro.»2

2. «Não conhecia a pessoa em casa de quem me hospedei.»

3. «Este é o chá sem o qual não vivo.»3

4. «Perdi o livro cujas páginas risquei.»

5. «Isto é quanto posso dizer-te». 

6. «Voltei à casa onde nasci.»

7. «Gostei do modo como apres...

Quantas pessoas formam um grupo?
Uma quantificação pouco óbvia

Num programa de rádio, levanta-se a questão: será que se pode falar de um grupo, quando se considera um conjunto de duas pessoas? Com base nas definições dos dicionários, Sara Mourato aborda este tópico.