Pedro Mateus - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Pedro Mateus
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Pedro Mateus, licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa; mestrado em Literaturas Românicas, na área de especialização Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea pela mesma Faculdade.

 
Textos publicados pelo autor

Trabalho perto do Chiado, em Lisboa. Tenho, por isso, o hábito e o privilégio de almoçar em alguns daqueles simpáticos restaurantes que se encontram espalhados pela Calçada do Combro.

Pergunta:

É comum em áreas relacionadas com ciências e engenharia a utilização do verbo "adimensionalisar". O referido verbo existe? É correcto utilizá-lo? No caso de existir, escreve-se "adimensionalisar", ou "adimensionalizar"?

Obrigado.

Resposta:

O adjectivo adimensional surge tradicionalmente associado à área da física e é definido da seguinte forma: «que pode ser expresso por um número simples sem dimensão (diz-se de grandeza física). Obs.: p. opos. a dimensional» (Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa).

Posto isto, e ainda que o verbo adimensionalizar não se encontre registado em nenhum dicionário, não vejo razões para que o mesmo não possa ser utilizado, sendo que apresenta uma formulação perfeitamente aceitável e comum no âmbito das regras de formação de palavras na língua portuguesa. É, aliás, de registar que, tal como o consulente muito bem salienta, este verbo é bastas vezes utilizado, por exemplo, em artigos e trabalhos de cariz científico relacionados com as áreas da física, da engenharia ou da electrónica. 

De facto, e explicando de forma muito sumária, por exemplo, quando se relacionam dois valores matematicamente com a mesma unidade (isto é, com dimensão), o resultado final surge adimensional (expresso por um número simples, sem dimensão). Ora, a esta acção poder-se-á então chamar adimensionalizar. 

Quanto à grafia correcta do referido verbo, e apesar de não existir nenhuma regra que nos permita saber se se deve escrever s ou z só com base na língua portuguesa, não só entre vogais, como também noutros contextos, na maior parte dos verbos terminados em -izar, assim como em palavras da mesma família, a opção correcta é, normalmente, o -z (para mais detalhes, leia-se a esta resposta).

Assim, dever-se-á escr...

Pergunta:

Referentemente à consulta respondida em 21/5/2010, onde se lê a frase «Os custos da empresa elevaram-se 12%», gostaria de saber a função sintática de «12%» nessa frase.

Obrigado.

Resposta:

Tendo em conta que «12%» é um constituinte não seleccionado por nenhum elemento dos grupos sintácticos que fazem parte da frase que nos propõe, considero que se trata de um modificador, neste caso, do grupo verbal.

Repare-se que a omissão do referido elemento («12%») na frase proposta não fere a sua gramaticalidade: «Os custos da empresa elevaram-se (12%).» O mesmo acontece, por exemplo, na seguinte afirmação: «As acções elevaram-se (na bolsa).»

Pergunta:

Em qual frase a regência do verbo elevar está correta:

1. «Os custos da empresa elevaram-se em 12%»

ou

2. «Os custos da empresa elevaram-se 12%»?

Resposta:

Relativamente à primeira frase sugerida pela consulente, a forma «elevaram-se em» não se encontra registada, pelo que a segunda proposta, «elevaram-se», sem recurso à preposição em, me parece a mais aconselhável (encontrando-se registada no Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa).

Valerá ainda a pena referir que em alguns artigos de jornais de economia de referência, ou em relatórios financeiros de diversos bancos ou sociedades anónimas, é muito comum encontrarmos a formulação «elevar-se a»: «Os resultados líquidos consolidados da Banif SGPS, SA, holding do Banif–Grupo Financeiro, elevaram-se a 54,1 milhões de euros no final do exercício de 2009»; «As perdas da Benfica SAD relativas a 2008/2009 elevaram-se a 34,8 milhões de euros (contra 116 mil euros de lucro no exercício anterior).»

Contudo, em termos gerais, tal formulação apenas se verifica quando se fala em números exactos. Já quando se utilizam percentagens, a opção preferida é, de facto, elevar-se, sem o aditamento de qualquer preposição: «As acções elevaram-se 2% na bolsa»; «os custos directos elevaram-se 13% para 98 milhões de euros» (Jornal de Negócios, 11/11/2008).

Deste modo, e para concluir, a segunda frase proposta pelo consulente, «Os custos da empresa elevaram-se 12%», parece-me a mais correcta. Naturalmente que podemos também substituir ...

Pergunta:

Estou com uma dúvida acerca da regência correta no emprego do termo critério. O correto é «ao seu critério» ou «a seu critério» (sem o artigo). O uso do artigo me parece facultativo, mas não tenho certeza.

Resposta:

O substantivo masculino critério é definido, no Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, da seguinte forma: «faculdade de discernir e de identificar a verdade; discernimento, razão».

Deste modo, por exemplo, as frases «Distrital de Setúbal decidiu deixar ao critério da consciência individual o sentido de voto» ou «Responsável do IPS diz que direito comunitário deixa ao critério de especialistas escolha de dadores seguros» poderiam facilmente ser substituídas por «Distrital de Setúbal decidiu deixar ao discernimento da consciência individual o sentido de voto» ou «Responsável do IPS diz que direito comunitário deixa à capacidade de discernimento de especialistas escolha de dadores seguros».

Seguindo a mesma linha de raciocínio, já me parecem ser no mínimo marginais as seguintes opções: «Distrital de Setúbal decidiu deixar a discernimento da consciência individual o sentido de voto» ou «Responsável do IPS diz que direito comunitário deixa a capacidade de discernimento de especialistas escolha de dadores seguros».

Assim, e ainda que esta questão não se encontre directamente abordada em nenhum dos dicionários ou gramáticas que consultei, afigura-se-me mais seguro optar, nos casos concretos que o consulente apresenta, pelo uso da preposição contraída ao do que pela utilização de a, isto é, «ao seu critério», em vez de «a seu critério».

No entanto, valerá a pena referir que uma breve consulta das páginas electrónicas dos jornais de referência brasileiros mostra claramente que a opção «a critério» é, de longe, a preferida, enquanto os meios de com...