Pergunta:
Ao folhear um livro de Português (12.º) da nova reforma, deparei-me com o seguinte exemplo de uma oração subordinada adverbial condicional: «Se está a chover, vou de carro.»
Nunca antes tinha visto em qualquer gramática orações condicionais em que ambos os verbos estavam no presente do indicativo. A meu ver, uma oração condicional pressupõe uma dúvida/hipótese, pelo que, se o verbo que precede a conjunção se se encontra no presente do indicativo, constatar-se-á um facto ao invés de se colocar uma hipótese. Esta constatação leva a uma relação causa-efeito e não a uma condição. É a minha dúvida legítima?
Resposta:
É uma dúvida muito legítima, caro consulente. Aliás, se me é permitido o aforismo fácil, não há dúvidas ilegítimas, só certezas.
Quanto à sua pergunta, de facto, normalmente, as orações condicionais com a conjunção se têm um dos verbos no conjuntivo:
— futuro do conjuntivo: «Se estiver a chover, vou de carro.»
— imperfeito do conjuntivo: «Se estivesse a correr, tinha ido de carro.»
No entanto, é também possível que o verbo apareça no presente, como acontece na frase que nos traz. A Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, tem como primeiro exemplo de uma oração subordinada adverbial condicional a frase de Fernando Pessoa «Tudo vale a pena/Se a alma não é pequena», onde os dois verbos aparecem no presente.
Isto acontece porque uma oração condicional não pressupõe necessariamente uma dúvida ou hipótese. Implica, sim, uma condição. Essa condição não é dada pelo tempo verbal, mas pela presença da conjunção se, e tanto pode ser uma circunstância real, um facto («Se está a chover, vou de carro»), como uma hipótese («Se estiver a chover, vou de carro»).