Pergunta:
Ao trabalhar os tempos compostos e simples do conjuntivo, deparei-me com uma dúvida quanto à hipótese/concretização da ação expressa em cada um dos casos.
O tempo composto do conjuntivo, tanto no futuro, como no mais-que-perfeito, expressa menos possibilidade de concretização da ação do que o seu correspondente tempo simples (futuro e imperfeito do conjuntivo)?
Entendo que ambos remetem para a conclusão da ação, mas terá uma duração mais prolongada (a concretização da mesma) num caso do que no outro?
«Quando tiveres lido o livro, devolve-mo.»
«Quando leres o livro, devolve-mo.»
«Caso tivesse lido o livro, devolver-to-ia.»
«Caso lesse o livro, devolver-to-ia.»
Muito obrigada, mais uma vez, pela vossa ajuda e maravilhoso apoio dado a todos os que, como eu, temos na língua portuguesa a nossa ferramenta de trabalho.
Com os melhores cumprimentos.
Resposta:
Para responder muito diretamente à questão, e concebendo os exemplos apresentados em situações concretas de comunicação, diria que ambos os pares contêm frases equivalentes (ou que, pelo menos, serão facilmente interpretadas de modo equivalente), tanto em termos de probabilidade como de duração da concretização da ação.
Ainda assim, uma observação mais analítica sobre algumas das propriedades modais e aspetuais das construções em apreciação poderá evidenciar algumas diferenças, ainda que subtis.
Em primeiro lugar, deve dizer-se que não é fácil encontrar estudos sobre as diferenças de valores de modalidade entre as formas simples e compostas de um mesmo modo verbal, visto que é através do contraste entre os diferentes modos que a realização do sistema da modalidade tem sido amplamente estudada e descrita. De facto, há até quem defenda que, do ponto de vista semântico, não há razão para se considerarem as formas compostas como tempos autónomos, tanto no modo indicativo como no conjuntivo. Nesta perspetiva, postula-se que, no modo conjuntivo, o pretérito mais-que-perfeito composto, o pretérito perfeito composto e o futuro composto veiculam a mesma informação que, respetivamente, o imperfeito, o presente e o futuro. (Cf. Rui Marques. 2006. Sobre a semântica dos tempos do conjuntivo: 550-551).
No entanto, e agora já num registo especulativo e pessoal, o facto de as formas compostas explicitarem um ponto de perspetiva temporal posterior à realização da ação expressa pelo verbo (não realização, no segundo par de exemplos) parece reforçar a possibilidade/probabilidade da sua concretização (impossibilidade/improbabilidade, no segundo par de exemplos). Ao mesmo tempo, a própria presença da forma participial do verbo vem ajudar a e...