Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Vi num relatório aqui na Empresa a seguinte frase "O Telefone Público está defronte ao número 700.” A frase está correcta? Ou seria "de frente" ou "em frente"?
Obrigado.

Resposta:

Em Portugal, deverá dizer-se «defronte do número 700» (defronte de, e não “defronte a”) ou «em frente ao número 700». No Brasil, aparecem como locuções sinónimas defronte de e defronte a. Na situação apresentada, estas locuções significam «diante de, em lugar oposto».
De frente não se aplica a esta situação. Significa «de face, visto pela parte anterior, colocado com a parte anterior virada para quem olha».

Pergunta:

Agradeço à dr.ª Maria Regina Rocha pela sua resposta de fevereiro sobre os diminutivos.
Algo ainda me intriga! Não tenho dúvidas sobre o diminutivo de mensagens: é mensagenzinhas.
Mas qual é o diminutivo de mensagem: é mensagemzinha ou mensagenzinha?
E, o mais importante: por quê?
Obrigado.

Resposta:

Quando se pretende formar o diminutivo de uma palavra, usa-se o singular da palavra. É a partir desse singular que se obtém o diminutivo, acrescentando-se o sufixo. Se se pretende um diminutivo no plural, então, forma-se esse plural a partir do singular do próprio diminutivo.
No caso que apresenta, a palavra mensagem tem como diminutivo mensagenzinha. Esse diminutivo tem um plural regular (acrescentando-se um -s): mensagenzinhas.
Na formação do diminutivo mensagenzinha, o “m” final da palavra mensagem é substituído por um “n” antes do “z” por causa da regra ortográfica que só permite o uso de “m” antes de “b” ou “p” (pomba, pompa).
Como exemplo, refiro os seguintes diminutivos de palavras terminadas em “m”: homenzinho, benzinho, jardinzinho, latinzinho, pudinzinho, bonzinho, atunzinho.
Obrigada pelas gentis palavras.

Pergunta:

O tão autopropalado respeito pela diversidade da "comum língua", de que esse site se diz paladino, fica reduzido a zero nas respostas de certos colaboradores. É o caso da senhora Maria Regina Rocha na assertiva de 18/2 sobre o tema "João emprestou do Pedro o dinheiro". Qualquer dicionário de português, que se não limite à variante alfacinha, que a dita senhora, para seu proveito e crédito e por consideração pelo consulente, deveria ter-se dado ao trabalho de consultar, tê-la-ia elucidado de que "no sentido de pedir ou tomar emprestado, pedir de empréstimo, receber por empréstimo, é falar brasileiro dizer-se emprestar de alguém alguma coisa».

Resposta:

Todos sabemos que não é consensual o conceito de “correcção” numa língua e que a própria norma varia, nomeadamente, no caso, do ponto de vista diatópico e diastrático. Creio ser claro para todos que a minha função aqui é a de tentar esclarecer a respeito da norma da “linguagem culta”, segundo expressão de Celso Cunha e Lindley Cintra.
Foi-me perguntado se era correcto utilizar em textos jurídicos a frase «João emprestou do Pedro o dinheiro.» no sentido de «João tomou emprestado o dinheiro de Pedro.»
Apesar de não desconhecer que em certas regiões do Brasil se utiliza a primeira construção no sentido da segunda, afirmei – e reafirmo – que tal construção não está correcta, pretendendo com isso dizer que ela não respeita a norma do português padrão. Em Portugal, tal construção é sempre incorrecta (aliás, ninguém a utiliza), e, no Brasil, é registada nos próprios dicionários brasileiros como um regionalismo restrito a certas regiões do país, pelo que, mesmo no Brasil, ela é sentida como um afastamento da norma culta. Assim, considero que ela não deve ser utilizada em textos jurídicos, até por causa da ambiguidade que possui, que deve ser evitada neste tipo de texto.
Esta é a minha opinião, e era certamente isto que o consulente pretendia: saber se a frase devia, ou não, ser utilizada naquele contexto. Saber que a frase existia, o consulente sabia; não estava em causa a sua existência, mas a correcção do seu emprego naquela situação.
Para finalizar, gostaria de dizer ao nosso consulente Carlos Ferreira que, quer no Brasil quer em Portugal, a sua forma de comentar é sentida como indelicada, pelo que agradeço tenha isso em atenção e o corrija, por favor, numa próxima consulta que queira fazer-nos.

N.E. – Mais do que indelicada, a intervenção deste consulente tem-se pautado, ao longo dos anos, pelo acinte permanente p...

Pergunta:

Interesso-me bastante pelo tema da ornitologia (estudo das aves). Os nomes portugueses das aves são muitas vezes compostos por dois ou mais elementos e, em certos casos, assume a forma verbo+substantivo, por exemplo guarda-rios, pica-osso, beija-flor; relativamente à formação de plural para estes nomes, já sabemos que apenas o substantivo passa para o plural, como em "guarda-chuvas". Contudo, encontrei recentemente um nome usado no Brasil que me suscitou algumas dúvidas: trata-se de "pisa-n'água" (ou "pisa-na-água"). Como se forma neste caso o plural? Será pisa-nas-águas?
Grato pela atenção.

Resposta:

No caso desta palavra, a marca do plural é dada apenas pelo artigo: os pisa-na-água. Quando os termos componentes de uma palavra composta são ligados por preposição, só o primeiro toma a forma de plural (ex.: chapéus-de-sol). Assim, «na água» não flexiona. Por outro lado, o primeiro elemento também não flexiona por se tratar de uma forma verbal (pisa). E é pisa-na-água e não "pisa-´n'água"

Pergunta:

Leio a seguinte frase num artigo de Manuel Alegre (in "Expresso" de 28 de Fevereiro): «Eu gosto de V.G.M. [Vasco Graça Moura]. Mas custa-me a perceber como é que uma pessoa de tão alto espírito desce por vezes a uma prosa de caserna.»
A frase que, essa sim, me custa perceber num poeta e prosador da estirpe de Manuel Alegre é exactamente aquele seu «custa-me a perceber»...
Estarei certo ou errado, estimado Ciberdúvidas?
Os meus agradecimentos antecipados.

Resposta:

Está errado, caro consulente, está errado o que diz. Efectivamente, o verbo custar no sentido de «ser difícil», «ter dificuldade em» tanto se pode empregar com a preposição a como sem ela. Acerca da legitimidade desse emprego, poderá consultar Cândido de Figueiredo, Problemas de Linguagem I, ou Heráclito Graça, Factos da Linguagem, cap. 20, p. 131. Exemplos do emprego deste verbo com a preposição a aparecem no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa: «Custa-me a acreditar que ele tenha dito isso. Custou-lhe a encontrar a solução para o problema.»
Permito-me aconselhá-lo, prezado consulente, a não duvidar da correcção da escrita de Manuel Alegre, um dos maiores vultos de sempre da Literatura Portuguesa.