Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Poderia ajudar-nos, esclarecendo a seguinte dúvida: a que se chama "oração intercalada"?

Gratas pela sua resposta.

Resposta:

Oração intercalada, parentética ou explicativa é aquela que ocorre no meio de outra oração (ou proposição), ou no final do período.

Ex.: Vocês, creio eu, não me estão a esconder nada, pois não?

Meninos – pediu ela – vão lavar as mãos, que vamos jantar.

Fiquei perfeitamente esclarecido. – disse ele, ironicamente.

Que estás a fazer? – perguntou o António, admirado.

Pergunta:

Consultei a Biblioteca Universal ('on-line') da Texto Editora e, na secção de Gramática, apresentam-se estes dois adjectivos como tendo apenas os seguintes graus: normal, comparativo (1) e superlativo (2), sendo estes o absoluto e o relativo.

Estará correcta a existência de um só comparativo e apenas dois superlativos?

Resposta:

Para que um adjectivo tenha comparativo e superlativo, é necessário que o seu sentido admita essa variação de intensidade.

No caso do adjectivo "pequeno", temos as seguintes formas do comparativo e do superlativo, na sua formação regular:

a) comparativo de superioridade: mais pequeno do que;
b) comparativo de igualdade: tão pequeno como;
c) superlativo relativo de superioridade: o mais pequeno;
d) superlativo absoluto sintético: pequeníssimo;
e) superlativo absoluto analítico: muito pequeno.

Na variação em grau deste adjectivo, também existem formas especiais: menor do que (comparativo), o menor e o mínimo (superlativos).

No caso do adjectivo "grande", temos as seguintes formas do comparativo e do superlativo, na sua formação regular:

a) comparativo de igualdade: tão grande como;
b) superlativo absoluto sintético: grandíssimo;
c) superlativo absoluto analítico: muito grande.
Na variação em grau deste adjectivo, também existem formas especiais: maior do que (comparativo), o maior e o máximo (superlativos).

Pergunta:

Gostaria de saber qual o plural certo de blitz: blitze (como registram dicionários), blitzen ou blitzes (como estampam os jornais)?

Resposta:

"Blitz" é estrangeirismo de origem alemã, praticamente não utilizado em Portugal. É redução de "Blitzkrieg", junção de duas palavras alemãs, "Blitz" e "Krieg", que significam, respectivamente, relâmpago e guerra. O vocábulo designou, na segunda guerra mundial, o avanço fulminante do exército alemão nas invasões que fez. No Brasil, esse termo é usado para designar "guerra-relâmpago" ou "batida policial inesperada, de grande aparato". O plural de estrangeirismos deve seguir a flexão da língua de origem. Assim, o plural é "Blitze".

"Blitzen" é o infinitivo do verbo. Com "blitzes", talvez os jornais queiram formar o plural usando as regras da gramática portuguesa (ex.: rapaz – rapazes, raiz –raízes, cruz - cruzes). Quem melhor lhe poderá dar uma justificação serão os tais jornais que utilizam esses termos. Mas... não considera que é uma palavra perfeitamente dispensável?

Nota: Escrevi as palavras iniciadas por maiúscula visto os substantivos em alemão serem assim escritos.

Pergunta:

Uma dúvida: como se pronuncia "designa"?

Des(í)gna ou desig(i)na?

Agradeço antecipadamente a atenção dispensada.

Resposta:

A palavra designa pronuncia-se "desígna". O grupo consonântico "gn" é articulado de uma só vez.

   No entanto, é natural a dúvida da nossa consulente, visto na linguagem coloquial brasileira haver uma acentuada tendência para destruir estes encontros consonantais de difícil pronúncia (gn, mn, pn, ps, pt, tm) intercalando a vogal "i" ou "e". Exemplo disso são as palavras digno, pneu e ritmo que, coloquialmente, são pronunciadas "dí-gui-no", "pe-neu", "rí-ti-mo".

   Também, por vezes, em versos de poetas brasileiros, notamos que, embora a vogal não esteja escrita, se supõe a sua existência. Tal acontece, por exemplo, ao considerarmos como regulares (de sete sílabas métricas) os seguintes versos, referidos na pág. 52 da Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra:

   Deixa-me ouvir teus cantores,
   Admirar teus verdores.
      (António Gonçalves Dias, Poesia completa e prosa escolhida, p. 376.)

   A tua carne não fremia
   À ideia da dança inerte
   Que teu corpo dançaria
   No pélago submerso?
      (Vinícius de Morais, Poesia completa e prosa, p. 342.)

Pergunta:

Qual o significado das palavras moji, jirau, pajeú, de origem indígena?

Resposta:

As palavras jirau e pajeú vêm registadas no Dicionário Aurélio século XXI com os seguintes significados:

   a) jirau – estrado de varas sobre forquilhas cravadas no chão, usado para guardar panelas, pratos, legumes, etc.; armação de madeira sobre a qual se edificam as casas a fim de evitar a água e a humidade; qualquer armação de madeira em forma de estrado ou palanque; cama de varas; no interior de um compartimento, piso a meia altura que cobre apenas parcialmente a sua área; sobreloja.

   b) pajeú – árvore da família das poligonáceas, de folhas ovadas, agudas, flores pequenas e reunidas em amplas panículas terminais, e cujo fruto é uma noz pequena encimada pelo cálix muito ampliado, com seis enormes cépalas; designação comum a instrumentos de cutelaria fabricados nos sertões de Pajeú; grande faca e ponta, de cabo de chifre, em forma de anéis, brancos e pretos; pajeuzeira; faca de ponta.

   Quanto a "moji", não encontrei registos. Estará correctamente grafada?

   A 10.º edição (1949-1958) do Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de António de Morais Silva regista moje, com a pronúncia "móji", significando arbusto africano trepador. Com o mesmo significado, aparece o vocábulo mógi, na edição de 1989 do Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado. Neste dicionário, também está registado mogi, com o significado de traje antigo de ambos os sexos.

   Refiro finalmente a palavra Mojos, designando índios da Bolívia.