Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Preciso de um modelo de texto que contenha uma linguagem referencial. Pode ser letra de música, poema, etc.

Resposta:

Linguagem referencial é aquela que encerra uma função referencial ou informativa, ou seja, que tem como finalidade a comunicação de informações, sendo sinónima de linguagem denotativa.

Nas letras de música e poemas, normalmente a linguagem não tem uma função informativa, pelo que não se constituem como os melhores exemplos para documentar tal função.

São exemplos de texto que contêm linguagem referencial as notícias, as reportagens, os textos de manuais escolares, as obras de carácter científico.

Pergunta:

Gostaria de saber qual o significado das palavras proxémia e quinestésia, e, já agora, se são palavras portuguesas, uma vez que não as consegui encontrar em nenhum dicionário. Somente encontrei referências à palavra proxémia em contextos sociológicos, embora sem conseguir perceber o seu significado.

Resposta:

"Proxémica" (do latim proximus) existe como termo usado na área das ciências, com o significado de "disciplina científica que trata dos diversos aspectos das aglomerações urbanas".

Quanto a "quinestesia", pergunto se não quererá referir-se ao termo "cinestesia" (do grego kinesis, acção de mover-se + aisthesis, sensação, percepção), com o significado de "sentido pelo qual se percebem os movimentos musculares, o peso e a posição dos membros".

O primeiro termo aparece registado no Dicionário Médico, de Stedman, (25.ª ed., 1996) e o segundo em qualquer bom dicionário.

Pergunta:

Gostaria de saber qual a importância do uso da norma culta para os profissionais que atuam na área de [gestão] de empresas, como administrador, marketing.

Resposta:

Todo o nosso comportamento social está regulado por normas a que devemos obedecer, se queremos ser aceites e considerados na comunidade a que pertencemos. O domínio da língua é um aspecto que leva a essa aceitação e consideração. É "linguisticamente correcto" aquilo que é exigido pela comunidade linguística em que nos inserimos.

A forma como utilizamos a língua varia de contexto para contexto. Quando estamos a desempenhar o papel de um profissional das áreas que indicou ou outras, esperam de nós não só o conhecimento da linguagem técnica respectiva (tecnoleto), como uma realização linguística de acordo com a norma. Exige-se que o falante domine essa norma, quanto mais não seja como consequência do nível de escolaridade a que chegou. Se tal não acontecer, até parece que não aprendeu nada enquanto andou na escola. Esse domínio contribuirá para a clareza e eficácia da comunicação (quem domina a língua detém o poder), mas também para a conquista do respeito, da consideração, por parte de quem o ouve, já que a cultura, actualmente, apesar de tudo, ainda perdura como valor.

Pergunta:

Tenho encontrado a palavra estatuto, no singular, em códigos brasileiros e estatutos (plural) em citações em espanhol. Ouve-se no Brasil, por exemplo, "O Estatuto da Terra" ... e "Os Estatutos da Terra" etc. Qual é a forma correta?

Resposta:

São correctas ambas as formas.
   O Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de António de Morais Silva, (1949-1958), referia que o termo era mais usado no plural do que no singular, e o Dicionário Aurélio século XXI confirma que o vocábulo tanto se usa no singular como no plural.

Pergunta:

Li num livro sobre arqueologia que na Bolívia situa-se a planície de Nazca, que no Peru está a cidade inca de Cuzco. Não acha que melhor ficaria escrevendo planície de Nasca e cidade de Cusco?

Afora isto, peço permissão para enviar outras dúvidas.

Antecipadamente agradeço eventual resposta. Saudações!

Resposta:

Também considero que ficaria melhor. Com isto, quero dizer que respeitaria as normas da ortografia portuguesa actual. Na evolução do português, o "z" em final de sílaba interna antes de consoante é substituído por "s" já desde meados do século XVI: Bizcaia > Biscaia; mazmorra > masmorra; mezquinho > mesquinho, etc.

A palavra Cusco, designando cidade do Peru, do espanhol Cuzco, este do quíchua ccoscco (com o significado de umbigo = centro, capital) aparece assim registada (com "s") no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, bem como na respectiva carta no Grande Atlas Geográfico, da Editorial Enciclopédia, Lda.

Nazca, pelo mesmo critério, também deveria ter na grafia o "s". No entanto, no referido atlas, esta palavra aparece grafada com "z".

Neste atlas, são indicados os critérios utilizados na escrita dos nomes estrangeiros, referindo-se designadamente que a nomenclatura de toda a cartografia deriva da oficial dos respectivos estados. Ao topónimo em forma local ou convencional corresponde um exónimo português (ex.: Londres é exónimo de London, Berlim de Berlin, Moscovo de Moskva). No entanto, há muitos vocábulos em que tal exónimo ainda não foi definido. E, neste caso, permanece o vocábulo estrangeiro. Também é referido o princípio da "transcrição fonética" com que tenta respeitar-se a exigência de manutenção do som da língua à qual pertence o vocábulo em causa.

Ora, no caso das palavras que apresenta, a pronúncia daquele "z" em espanhol é semelhante à do nosso fonema /s/, o que torna ainda mais legítimas as formas portuguesas Cusco e Nasca.