Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Uma viagem à volta dos meses anos  neste artigo da professora Maria Regina Rocha na sua coluna "A vez… ao Português", no Diário do Alentejo de 9/01/ 2009.

 

 

Pergunta:

Ao escrever uma simples carta e ao “correr da pena” escrevi: «Na sequência da v/ carta de 20-11-08 que anexava o cheque desconto de 30,00 €, tomo a liberdade de vo-lo remeter, visando…»

É correcto o emprego de vo-lo, ou deve ser substituído por «tomo a liberdade de o remeter…» ?

Solicito o favor dos vossos esclarecimentos.

Resposta:

Tanto está certa a construção «tomo a liberdade de o remeter» como «tomo a liberdade de vo-lo remeter».

No primeiro caso, o emissor diz apenas que toma a liberdade de remeter o cheque, utilizando o pronome o para substituir a palavra cheque.

No segundo caso, o emissor diz que toma a liberdade de remeter o cheque (utilizando o pronome o) e refere a quem o remete (uma segunda pessoa, a quem trata por vós). Ao utilizar os dois pronomes forma de complemento (complemento dire{#c|}to, o, e complemento indire{#c|}to, vos), o complemento indire{#c|}to precede o dire{#c|}to, como é norma, utilizando-se a forma lo e suprimindo-se o s final de vos: vos + o –> vo-lo.

Exemplos:

(1) «Tenho o prazer de oferecer este livro ao meu aluno» = «Tenho o prazer de lho oferecer»

(2) «Tenho o prazer de vos oferecer este livro» = «Tenho o prazer de vo-lo oferecer»

(3) «Tomo a liberdade de vos enviar o livro» = «Tomo a liberdade de vo-lo enviar»

(4) «Tomo a liberdade de vos pedir uma opinião» = «Tomo a liberdade de vo-la pedir»

À volta do Natal

A origem da palavra Natal. E porque se designa missa do galo à celebração católica da passagem de 24 para 25 de Dezembro? Finalmente: são os pais natal ou os pais natais? Artigo de Maria Regina Rocha no Diário do Alentejo de 26 de Dezembro de 2008.

Pergunta:

A respeito da capital de Moçambique, diz-se «o Maputo», ou «Maputo», sem artigo?

Resposta:

Utiliza-se «o Maputo» ou «Maputo» consoante se refere o rio ou a cidade.

Quando se designa o rio, utiliza-se o artigo, pois os nomes dos rios são precedidos de artigo: «o rio Maputo», «o Maputo». Quando se designa a cidade, a regra geral é a da omissão do artigo. Efectivamente, na denominação das localidades (cidades, vilas, aldeias, povoações), a regra é a da ausência do artigo, como acontece, por exemplo, com os nomes das cidades moçambicanas Nampula, Quelimane, Inhambane, Nacala: «nasci em Nampula», «vivi em Quelimane», «visitei Inhambane», etc.

Os nomes de localidades em que se usa o artigo normalmente tiveram origem num substantivo comum, como é o caso da cidade moçambicana da Beira (beira como substantivo comum significa «margem, orla, borda»): «a Beira é uma linda cidade», «vale a pena passar uns dias na Beira».

Sei que há oscilação no emprego do artigo a respeito do nome da cidade de Maputo, pois o tema em o faz com que naturalmente se diga «o Maputo», mas não vejo razões para não se seguir a regra da omissão do artigo, como acontece, por exemplo, com os nomes das cidades de Aveiro ou de Faro. Assim, no caso de Maputo, deverá omitir-se o artigo: «Maputo é a capital de Moçambique», «ele trabalha em Maputo».

Cf.  Glossário de moçambicanismos, recolhido pelo tradutor e professor português Vítor Santos Lindgaard

Pergunta:

Tenho algumas dúvidas na classificação dos nomes das cidades. Na frase «Eu nasci em Maputo», a palavra Maputo é do género feminino, ou masculino?

Resposta:

O género gramatical atribuído aos nomes de cidades é o feminino. Trata-se de um género estabelecido por palavra oculta. Como se subentende a palavra cidade, gramaticalmente considera-se que o nome é feminino, independentemente de terminar em -a (Nampula, a linda!), em -e (Quelimane), em -o (Maputo), em consoante (Montepuez) ou ter uma forma plural (Santos) ou composta (a antiga Lourenço Marques). Exemplo: «a antiga Ouro Preto».

Exceptuam-se os nomes das cidades em que se usa o artigo masculino, como, por exemplo, o Porto, o Rio de Janeiro ou o Cairo. Exemplo: «O Porto antigo.»

No entanto, por uma questão de eufonia, normalmente, quando se pretende utilizar um adjectivo a classificar uma cidade de tema em -o que não tenha artigo, utiliza-se precisamente a palavra cidade. Exemplos: «a movimentada cidade de Maputo», «a cosmopolita cidade de Faro», «a bela cidade de Aveiro».