Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Quando eu tenho uma frase em que apareça um substantivo abstrato que não indica ação, o que estiver completando esse substantivo será complemento nominal ou adjunto adnominal?

Resposta:

Substantivos abstractos são aqueles que designam estados ou qualidades, sentimentos, ideias, noções, acções, situações, como, por exemplo, saudade, paixão, saúde, doença, juventude, beleza, paciência, organização, trabalho.

Não se classifica um termo de complemento nominal ou de adjunto adnominal em função da natureza do substantivo do qual depende. Esses complementos é que são, em si, diferentes. Enquanto que o complemento nominal completa o sentido do substantivo, sendo indispensável (e estando-lhe obrigatoriamente ligado por preposição), o adjunto adnominal enriquece-o apenas, é um simples atributo, não é totalmente indispensável ao entendimento.

Se escolhermos, por exemplo, a palavra "beleza", ela tanto pode ter um complemento nominal, como um adjunto adnominal.

1. Exemplos com complemento nominal:
A beleza desta paisagem encanta-me sempre.
Ela ficou admirada com a beleza do quadro.
2. Exemplos com adjunto adnominal:
A menina tinha uma grande beleza.
A menina tinha uma beleza impressionante.
A menina tinha uma beleza de espantar.
A menina tinha uma beleza sem limites.

Repare que, se nos dois primeiros exemplos retirar as expressões "desta paisagem" e "do quadro", as frases perdem um elemento essencial do que se pretende dizer, ficando com um sentido totalmente diferente. Já no caso das quatro últimas frases, se se lhe retirar o adjunto, naturalmente que elas não ficarão completas em relação ao que pretende dizer, mas o essencial já lá está, que é o facto de a menina ser bela, só lhe faltando a dimensão da beleza, a qualidade.

Pergunta:

Dicas para uma boa monografia.

Resposta:

Não sei bem em que sentido utiliza a palavra monografia, se no sentido de uma dissertação ou estudo minucioso sobre um único assunto, um assunto relativamente restrito, um trabalho científico que resulte de investigação científica, uma tese, se apenas no de tratamento de tema bem delimitado, mas que não necessita do rigor e profundidade de uma investigação científica.
A redacção de uma monografia é assunto tratado em obras da especialidade. Poderei sugerir-lhe (visto escrever-nos do Brasil) uma obra aí publicada, Como fazer uma monografia, de Délcio Vieira Salomon, da qual seleccionei as sugestões que se seguem.
A elaboração de uma monografia pode compreender várias etapas interligadas: escolha do assunto, pesquisa bibliográfica, documentação do trabalho e sua crítica, construção e redacção.
1. O assunto: O que vai ser tratado? Como? Com que objectivo?
2. A pesquisa bibliográfica: importância das fontes e da bibliografia; elaboração de fichas bibliográficas e sua classificação, bem como indicações críticas sobre as respectivas obras (rigor, actualidade, abrangência, isenção, etc.)
3. Documentação do trabalho e sua crítica: selecção metódica e crítica do material a ser utilizado na elaboração do trabalho, em função de um plano previamente elaborado, de um esquema inicial que irá sendo afinado à medida que quem escreve vai aprofundando o assunto e verificando o que importa, afinal, tratar.
4. Construção definitiva do plano do trabalho:
– Introdução: apresentação do assunto, dos motivos da escolha, da importância, dos objectivos, do quadro teórico de referência, do plano do trabalho, das partes que o compõem. Antes da introdução, poderá haver um prefácio. Se existir, alguns dos aspectos da introdução passam para o prefácio: a natureza do trabalho, a instituição que o promoveu, a orientação recebida (se existir um orientador), o plano geral, os agradecimentos.
– Desenvolvimento: fundamentação lógica...

Pergunta:

Na frase: "A compreensão é a necessidade do fraco."
Por que "do fraco" é complemento nominal e não adjunto adnominal?
Seria porque "do fraco" é paciente ou destinatário da ação de compreender?
"do fraco" possui sentido ativo ou passivo? Por que?
Veja o exemplo (se é que é dessa forma que eu deveria analisar a frase acima):
1 - A resposta do aluno foi satisfatória.
2 - A resposta ao aluno foi satisfatória.
Na primeira, "do aluno" é adjunto adnominal pois possui sentido ativo (algo de alguém).
Na segunda, "do aluno" é compl. nominal pois possui sentido passivo, ou seja, é destinatário da ação de responder (algo a alguém).

Resposta:

O complemento nominal é o termo que completa o sentido de um substantivo, adjectivo ou advérbio, e vem sempre regido de preposição. O adjunto adnominal é um termo de valor adjectival utilizado para especificar o significado de um substantivo, desempenhe este a função que desempenhar na oração.
Assim, o complemento nominal não é específico do substantivo (o adjectivo e o advérbio também podem ter este complemento), é sempre introduzido por preposição e – muito importante – é indispensável à denominação do termo em causa, pois integra o seu sentido ou limita-o, designado a origem, a proveniência, a posse, o parentesco, o objecto da acção ou sentimento, etc., mas não é uma qualidade, um atributo, enquanto o adjunto adnominal é um atributo, um adjectivo ou expressão adjectival que qualifica o substantivo e pode ou não vir regido de preposição.
Na primeira frase que apresenta, "do fraco" é um complemento nominal. Se retirasse esse complemento, a frase ficaria incompleta, totalmente diferente. Vou construir uma frase semelhante com um adjunto adnominal: "A compreensão é a necessidade do homem fraco." Nesta frase, o adjectivo "fraco" qualifica o substantivo "homem".
Exemplos de adjunto adnominal regido da preposição "de": "Ele é um homem de reconhecida importância." ( = muito importante); "Ele tinha saídas de génio." (= geniais); "Ele encontrava-se numa situação de desespero." ( = desesperada). Nas duas últimas frases que apresenta, "do aluno" e "ao aluno" são, também, complementos nominais, pois indicam, num caso, a proveniência e, no outro, o objecto indirecto (resposta dada ao aluno), não constituindo qualidades intrínsecas do substantivo "resposta".
Talvez seja mais difícil analisar a função por meio da verificação do sentido activo ou passivo, pois esse sentido poderá não ser totalmente claro e não é ele que determina a função do elemento.
Na primeira frase que apresenta, "do fraco" não diz respeito a "compreens...

Pergunta:

Custa-me entender, o me é o sujeito de entender, ou o entender é o sujeito oracional de entender?

Resposta:

Antes de analisar sintacticamente a frase que apresenta, vamos considerar a sua construção.

"Custa-me entender." é uma frase incompleta. Ela só pode compreender-se num determinado contexto linguístico ou situacional, que não foi fornecido. Para a analisar, vou completá-la de duas formas (ambas permitindo reflectir sobre a dúvida que apresenta):

1. "Custa-me entender este texto."
2. "Este texto custa-me a entender."

1. Na primeira frase, temos o verbo "entender" utilizado como transitivo directo, sendo "este texto" o seu complemento directo e constituindo-se como sujeito de "custa-me", como se se dissesse: "Entender este texto custa-me."

Neste caso "entender este texto" é o sujeito, "custa" o predicado e "me" o complemento indirecto.

2. Na segunda frase, o sujeito é "este texto", o predicado é "custa a entender" (locução verbal) e o "me" continua a ser o complemento indirecto.

Uma observação final: o "me" nunca poderia ser sujeito de "custa", em primeiro lugar porque é um pronome forma de complemento e em segundo lugar porque o verbo custar está na 3.ª pessoa do singular e não na primeira.

Pergunta:

Gostaria que vocês me confirmassem se a regência destes nomes abaixo está correta; e, se possível, acrescentassem alguma outra preposição, que não esteja no contexto, e que também poderia ser utilizada para regê-los. Obrigado e aguardo retorno.
habituado a, em
apaixonado de, por
compreensível a, para
confiança em
engajado a
acessível a,
ara
intransigente em
empenho de, em, por
inclinação a, por, para
invasão a
semelhante a, de
dissemelhante a, de
orgulhoso de, com, para com
prestes a, para
piedade a, de
constituído de, com, por
desprezo a, de, por

Resposta:

Vou repetir os vocábulos, por ordem alfabética, acrescentando preposições ou suprimindo as que não se usam:
a) acessível a;
b) apaixonado de, por;
c) compreensível a, para;
d) confiança em: dar confiança a; ter confiança em;
e)constituído de, por, em;
f) desprezo de, por;
g) dissemelhante de;
h) empenho em, por;
i) engajado em, como: é galicismo desnecessário, podendo substituir-se por "empenhado em", "comprometido com", "contratado";
j) habituado a;
k) inclinação por, para;
l) intransigente em;
m) invasão a, de;
n) orgulhoso de, com, por, por causa de;
o) piedade de, para com, por;
p) prestes a (quase a), prestes para (pronto para);
q) semelhante a.