Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Venho novamente em busca de auxílio. Desculpem-me de explorar tanto seus conhecimentos. É que vocês são os únicos a se dispor a tirar dúvidas em língua portuguesa, e o fazem com muita competência, é preciso dizer. Vamos às perguntas: a palavra correta é auditar, ou auditorar? A primeira grafia é muito usada por meus colegas jornalistas, porém acho que a forma correta é a segunda, pois os dicionários registram auditoria, termo que deve originar o verbo auditorar, e não auditar.

A segunda dúvida é quanto à pronúncia da palavra heterossexual. Pronuncia-se “héterossexual” (como se o prefixo hetero fosse proparoxítono) ou simplesmente "heterossexual", isto é, sem acentuação?

Grato pela atenção que me tem sido dada. Espero merecê-la mais uma vez.

Resposta:

1. Auditorar e auditar são termos sinónimos. O termo auditorar (de auditor + -ar) aparece registado no Dicionário Aurélio Século XXI (1999), com o significado de «examinar como auditor; realizar auditoria em (empresa, etc.)». O termo auditar (do lat. auditare, «ouvir muitas vezes»), com o significado de «fazer auditoria», aparece não só no Houaiss (2002) como no Michaelis (em linha), no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (1999), da Academia Brasileira de Letras, e no Grande Vocabulário da Língua Portuguesa (2001), de José Pedro Machado.

Embora qualquer das palavras esteja correcta, formada de acordo com as normas da língua portuguesa, o termo normalmente usado em Portugal é auditar, em expressões como «entidades a auditar», «entidades auditadas», «auditar a comunicação interna e a externa», «auditar o departamento financeiro», «auditar contas», «auditar aplicações», «empresas a auditar», «auditar procedimentos de organização».

2. Heterossexual pronuncia-se com a vogal e inicial aberta (“hé...”).

Pergunta:

Será que "cool" também já entrou na lista dos ex-estrangeirismos portugueses? Ou deve-se traduzir por outro termo nosso (qual deles?): bestial, óptimo, fantástico, calmo e activo ao mesmo tempo, eu sei lá... Tratando-se de uma linguagem para gente jovem, eu deixaria a expressão original (acho que dá mais o tom!), mas gostava muito de ouvir a vossa opinião, além de me aborrecer ter de usar sempre palavras estrangeiras.
Podem ajudar-me?
Obrigada!

Resposta:

Neste sítio, defendemos a utilização do termo português. Os estrangeirismos são muitas vezes apenas modismos. Em vez do vocábulo em causa, poderá utilizar os termos «óptimo», «fantástico», ou os de nível popular «fixe», «bestial», mas não os vocábulos «calmo» e «activo».

Pergunta:

Gostaria que fizessem a análise sintática das frases: "de longe seus pais a chamavam em gritos nervosos" e "no 3.º dia de outono o pombo-correio atirou-lhe de longe uma carta". E a análise morfológica da frase: "os outros são uns covardes".

Resposta:

Estas frases pertencem a uma delicada obra de Jorge Amado, escrita em Paris, intitulada O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: Uma História de Amor.
Façamos, então, a análise pedida.

1. “De longe seus pais a chamavam em gritos nervosos.”
Análise sintáctica:
sujeito – seus pais;
predicado – chamavam;
complemento directo – a;
complemento circunstancial de lugar – de longe;
complemento circunstancial de modo – em gritos nervosos.

2. "No terceiro dia do outono, o Pombo-Correio atirou-lhe de longe uma carta."
Análise sintáctica:
sujeito – o Pombo-Correio;
predicado – atirou;
complemento directo – uma carta;
complemento indirecto – lhe;
complemento circunstancial de lugar – de longe;
complemento circunstancial de tempo – no terceiro dia do outono.

3. “Os outros são uns covardes.”
Análise morfológica:
os – artigo definido masculino plural;
outros – pronome indefinido;
são – forma do verbo “ser” na 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo;
uns – artigo indefinido masculino plural;
covardes – adjectivo qualificativo substantivado.

Pergunta:

Queria saber se está correto o emprego da preposição de, após o verbo ser, na frase abaixo:
«A tendência é de as provas oficiais se expandirem para além do Estado.»
Li em um jornal uma crítica ao "dequeísmo", uso indevido da preposição de, e gostaria de saber se este é um caso.
Obrigada.

Resposta:

Na frase que apresenta, o emprego da preposição “de” não é incorrecto. Essa preposição liga a palavra “tendência” à expressão «as provas oficiais se expandirem para além do Estado». Quando se liga um substantivo a outro ou a uma expressão, por intermédio do verbo ser, fazendo essa expressão as vezes de nome predicativo e indicando algo que caracteriza, que clarifica o primeiro substantivo, utiliza-se a preposição “de”.
Construindo a frase de outra forma, com os verbos haver, existir ou outro, talvez fique mais nítida a relação entre “tendência” e “provas”: «Há a tendência de as provas oficiais se expandirem para além do Estado.», «Existe a tendência de as provas oficiais se expandirem (...)», «Não se pode negar a tendência de as provas oficiais se expandirem (...)», etc.

Pergunta:

A dúvida que eu tenho prende-se com a conjugação de duas respostas que vi neste fórum.
Fiquei um pouco surpreso de ter lido que o plural de "modem" deveria ser "modens". Por outro lado li que no aportuguesamento de uma palavra se deveria fazer analogia também na fonética (cf. "Golfe" Jan-97).
Logo não se deveria escrever "módeme" ou mesmo "modeme", sendo o plural "módemes/modemes" ao invés do sugerido "modens"?
Obrigado pela atenção.

Resposta:

“Modem” é um estrangeirismo que costuma pronunciar-se à inglesa, quer no singular quer no plural, com as vogais abertas, o “e” não nasalado e articulando-se o “m”. Trata-se, pois, de um estrangeirismo não assimilado ao sistema gráfico e fonológico português.
Como também se trata de um neologismo, ainda não há total consenso em Portugal, nem a respeito da sua grafia nem do respectivo plural.
Neste caso, como noutros de estrangeirismos não assimilados à nossa grafia, poderá seguir-se uma de duas regras: ou respeitar a forma de plural da língua de origem ou, simplesmente, acrescentar ao singular um “s”, marca do plural em português adequada aos termos estrangeiros não assimilados. No caso vertente, quer se siga uma, quer outra, o resultado é o mesmo: “modems”. Esta forma de plural vem registada no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa (2001).