Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Estou pesquisando a etimologia dessas palavras para um trabalho acadêmico.

Gostaria de obter ajuda. Tenho uma certa urgência.

Obrigada.

Resposta:

No Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, está registada a etimologia de ambas as palavras:

a) Ambiente, adj. e s. Do lat. ambiente-, do v. ambio, de ire (donde ir), “ir em volta; rodear; envolver alguém com solicitações”. Séc. XVII: “diz que he a supreficie ambiente do que está nelle”, Sermões, V. 6, 3, N.º 179. Vj. o ensaio Ambiente, em Saggi Linguistici de Bruno Migliorini, pp. 242-261.

b) Meio, s. Do lat. mediu-, n., “meio, centro; fig., meio, lugar acessível a todos, à disposição de todos; sítio exposto à vista de toda a gente; metade”. Séc. XIII: “Hu non dix o meyo de parecer / Que lhi mui boo deu Nostro Senhor”, Vasco Gil, no C.B.N., N.º [263]. O pl. meios no séc. XIV: “deve comer mais o terço e assi meios as outras aves...”, p. 22.

 

 

Pergunta:

Eu sou dos Estados Unidos e sei falar português do Brasil. Eu sei que vocês nao têm um consultor brasileiro que pode me responder. Mas eu queria tentar pelo menos lhes fazer uma pergunta sobre língua portuguesa. Eu passei um ano no Brasil fazendo um inter-cambio. E agora daqui a pouco estarei a voltar em junho para fazer um serviço voluntário: eu vou ser um supervisor de voluntários dos Estados Unidos. Eu estarei a falar de coisas importantes quando estiver lá, e eu acho que é necessário saber exactamente como se fala português.
A última vez que estive no Brasil, eu percebi que às vezes fala-se "ia a gostar" em vez de "teria gostado".
Por exemplo: "José ia a gostar do filme" em vez de "José teria gostado do filme", como se José não estivesse lá naquela hora. Compreendem?
Eu nem percebia com tanta frequência mas eu só quero tirar essa dúvida. Para mim é importante saber se é assim que se fala no Brasil, pois, em junho, eu estarei a falar muito com a gente de lá sobre negócios importantes.
Obrigado.

Resposta:

Creio que a sua dúvida diz respeito ao uso da locução formada pelo pretérito imperfeito do verbo ir + infinitivo no sentido de um condicional. Vou criar duas situações para ver se é esta a sua dúvida.
1. Se estamos a ver um filme e pensamos que alguém que não está ali gostaria dele, dizemos “Ele ia gostar de ver este filme.”, no sentido de “Ele gostaria de ver o filme. “ ou “Ele teria gostado de ver o filme.”
2. Se estamos com a pessoa à nossa frente, já vimos o filme e achamos que ela teria gostado dele, se o tivesse visto, dizemos-lhe “Tu ias gostar do filme.” ou “Tu havias de gostar do filme.”, no sentido de “Se o tivesses visto, tu terias gostado do filme.” No Brasil, este “tu” seria substituído por “você”: “Você ia gostar do filme.”
Penso que a expressão que ouviu foi “ia gostar”, e não “ia a gostar”. Talvez lhe tenha parecido ouvir a preposição “a”, dado no Brasil a vogal “a” ser pronunciada de uma forma mais aberta e mais alongada, podendo o “ia” soar a “iá”.
Em português, usa-se o pretérito imperfeito em vez do condicional para referir um facto que seria consequência de outro que não ocorreu, como o caso que apresenta.
Esclareço ainda que a locução ir + infinitivo tem em português as duas construções que se seguem:
a) O verbo “ir” no presente do indicativo + infinitivo de um verbo indica um futuro próximo. Exemplo: “Logo à tarde, vou estudar.”
b) O verbo “ir” no imperfeito do indicativo + infinitivo de um verbo indica um condicional, uma acção condicionada por outra. Exemplo: “Se me acompanhasses, ia (=iria) estudar.”

Finalmente, como se trata de um estrangeiro a tentar falar e escrever português, queria cumprimentá-lo pelo interesse pela nossa língua e competência que já manifesta, mas também sugerir algumas correcções ao seu texto:
1. As palavras que se seguem devem escrever-se assim: olá, não, intercâmbio, Junho (em Portugal), junho (no Brasil).
2. Deve evitar-se a repe...

Pergunta:

Na norma culta, é possível iniciar período com preposição?
Por exemplo:
1 – "Por causa do medo, o homem primitivo sobreviveu e pôde evoluir".
2 – "No que concerne ao uso indiscriminado de (...)"
Agradeço pelo trabalho das pessoas que formam e dão vida a este portal.

Resposta:

É, sim, possível começar um período com preposição que introduz um complemento circunstancial. Colocado no início da frase, esse termo aparece isolado por vírgulas.
Obrigada pelas suas amáveis palavras.

Pergunta:

Há muito tempo já, perguntei qual seria a origem da frase «guardar de Conrado o prudente silêncio». Até agora não obtive resposta; por isso, relembro a pergunta.

Resposta:

A expressão, tal como a apresenta, penso ser uma variante da célebre frase «J´imite de Conrart le silence prudent», escrita por Boileau referindo-se a Valentin Conrart.

Valentin Conrart foi um escritor francês de pouca nomeada, que nasceu e morreu em Paris (1603-1675). Seu pai quis destiná-lo ao comércio, mas, tendo aquele falecido cedo, o jovem Conrart, rico e ambicioso, dedicou-se exclusivamente às letras, reunindo em sua casa excelentes escritores, que vieram a constituir a Academia Francesa (1634), da qual Conrart foi secretário. Foi também conselheiro e secretário particular do rei. Era um homem muito culto que escreveu muito, mas poucas obras publicou (Ballade, Lettres familières à M. Félibien), dedicando-se, sim, à publicação de obras de outros escritores.

Foi vítima do sarcasmo de alguns escritores, entre os quais Boileau. Tornou-se célebre a sátira de Boileau dirigida a Conrart, que começa assim: «J´imite de Conrart le silence prudent.» Referia-se Boileau à decisão de Conrart de não falar de determinado assunto, ou por o desconhecer ou por não lhe convir referir-se a ele.

Pergunta:

Como se chama aquele que destorce? Destorcedor? Destorsor? Destorçor?

Resposta:

No Dicionário Universal, no Michaelis e no Grande Dicionário da Língua Portuguesa (1991), de José Pedro Machado, Sociedade da Língua Portuguesa, está registado o adjectivo destorcedor, com o significado de “que ou quem destorce”, “que ou aquele que destorce”, (Bras.) “que ou quem sabe torcer-se para evitar trabalhar”; (Bras.) indivíduo esperto e sem escrúpulos”.