Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Pedido de desculpa ou pedido de desculpas?

Resposta:

Pede-se desculpa ou faz-se um pedido de desculpa, ou seja, pede-se que alguém nos tire a culpa, deixe de nos considerar com culpa. Nestes casos, a palavra “desculpa” significa “perdão, indulgência, absolvição”. Na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, está registada a expressão “pedir desculpa” com o significado de “mostrar-se, por palavras ou por escrito, sem culpa, justificar-se de falta aparente”.

Pergunta:

Tenho três dúvidas sobre o nexo, “não sem antes que”. (1) A oração subordinada adverbial que introduz é temporal ou final ou consecutiva? (2) É aceitável que um verbo no futuro de conjuntivo siga este nexo, como no exemplo 2 abaixo? (3) Qual seria um sinônimo de “não sem antes que”?
1. Tu sempre passas o hotel das luzes acesas, não sem antes que o porteiro te saúde, chamando-te de nome.
2. Tu sempre vais passar o hotel das luzes acesas, não sem antes que o porteiro te saudares, chamando-te de nome.

Resposta:

As frases que apresenta não estão correctamente construídas.
Penso que pretende dizer que alguém passa por um hotel que é conhecido por ter determinadas luzes acesas e que, quando tal acontece, o porteiro do hotel saúda essa pessoa chamando-a pelo nome.
Se assim for, e tentando utilizar as palavras que escolheu, a construção poderá ser uma destas: “Sempre que passas pelo hotel das luzes acesas, o porteiro saúda-te, chamando-te pelo nome.” ou “Nunca passas pelo hotel das luzes acesas sem que o porteiro te saúde, chamando-te pelo nome.” ou “Sempre que passares pelo hotel, o porteiro saudar-te-á.”
As orações introduzidas por “antes que” são normalmente orações subordinadas temporais: “Antes que fales, o porteiro saúda-te.” O tempo verbal exigido pela locução conjuncional “antes que” é o presente do indicativo, e não o futuro do conjuntivo.
A expressão que refere não está correctamente formada (*não sem antes que). O que mais se aproxima dessa expressão é uma construção de oração na negativa à qual se subordina uma outra oração: “O patrão não lhe paga sem que, antes, ele termine o trabalho.”

Pergunta:

1 – A conjugação do verbo querer no imperativo afirmativo é: quere, queira, queiramos, querei, queiram?
2 – Na frase: "No caso de não se satisfazerem as condições do contrato..." (qual o tempo e modo em que o verbo satisfazer foi empregado?)
Obrigado.

Resposta:

1 – O imperativo do verbo querer é: quer (tu), querei (vós). No entanto, este verbo não é usado no imperativo, a não ser em frase enfática, muito raramente.
2 – Na expressão “no caso de não se satisfazerem as condições do contrato...”, o modo é o infinitivo pessoal e o tempo é o presente. A expressão “no caso de” pede infinitivo (“no caso de tu ires”, “no caso de ele fazer”). Se usasse a conjunção condicional “se”, já o modo a utilizar seria o conjuntivo (“se tu fores”, “se ele fizer”).

Pergunta:

Qual a conjugação dos verbos: compelir, gerir, computar, bulir e cerzir no presente do indicativo e pretérito perfeito do indicativo? Se houver alguma particularidade referente a alguns desses verbos, por favor, indique-a.

Obrigado.

Resposta:

Estes verbos têm algumas particularidades:

a) Compelir e gerir são verbos irregulares. Mudam o “e” do radical em “i” na 1.ª pessoa do singular do presente do indicativo, mas esta forma não é normalmente usada, sendo substituída pela perifrástica. São, pois, verbos defectivos por eufonia, sendo desusadas as formas que se prestam a equívocos, são de difícil pronúncia ou soam mal ao ouvido. Nas restantes pessoas e no pretérito perfeito do indicativo, mantêm o “e” no radical e seguem a flexão da 3.ª conjugação, como “aderir” ou “servir”.

b) Computar é também um verbo defectivo por razões de eufonia: não se usa nas três primeiras pessoas do presente do indicativo. Nas restantes e no pretérito perfeito, segue a flexão regular dos verbos da 1.ª conjugação.

c) No presente do indicativo, bulir muda o “u” do radical em “o” na 2.ª e 3.ª pessoa do singular e na 3.ª do plural. No pretérito perfeito do indicativo, mantém o radical “bul-”: buli, buliste, etc.

d) Cerzir é um verbo irregular. No presente do indicativo, nas formas rizotónicas, muda o “e” do radical em “i”, nas outras, mantém-no: cirzo, cirzes, cirze, cerzimos, cerzis, cirzem. No pretérito perfeito do indicativo, mantém o “e” no radical: cerzi, cerziste, etc. Conjuga-se, pois, como “agredir” ou “prevenir”.

Pergunta:

Qual a concordância correta:
1) Mais de 80% da internet é utilizada por internautas incautos;
2) Mais de 80% da internet são utilizados por internautas incautos.

Resposta:

A construção correcta é: “Mais de 80% da Internet é utilizada por...”.
Segundo a Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara (brasileiro), modernamente, quando no sujeito entram expressões numéricas de percentagem, o predicado concorda com o termo preposicionado que especifica a referência numérica: “30% do Brasil assistiu à transmissão dos jogos.”; “30% dos brasileiros assistiram à transmissão dos jogos.”; “2% da assistência detestou o filme”; “2% dos espectadores detestaram o filme.”
No entanto, este assunto não é consensual. Aqui no Ciberdúvidas, poderá ver na rubrica “Controvérsias”: 25% ficaram em casa, outra vez (19/6/1998), 25% ficou em casa, outra vez (25/6/1998), 25% dos alunos ficou em casa (23/12/1997), 25% dos alunos ficaram em casa (23/12/1997).