Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Sou professora na Escola Secundária de Montemor-o-Novo e gostaria de saber a origem da expressão: casa de pasto. Sei que "pasto" se refere a animais que pastam!
Obrigada pela atenção dispensada.

Resposta:

A palavra pasto é hoje usada normalmente com o significado de «vegetação que serve de alimento para o gado, pastagem». Mas esta palavra provém do latim “pastus”, que também significava «alimento do homem» e «alimento do espírito».
Na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, registam-se algumas abonações deste sentido de comida em geral (e não apenas relativo a pastagem). Transcrevem-se três: «A gente de não grandes pensamentos nada tanto a satisfaz como o bom pasto, que é felicidade ou trabalho de que padecem duas vezes ao dia.» (D. Francisco Manuel de Melo, Carta de Guia de Casados); «Não estava persuadida em que ficasse para ali uma donzela velha e revelha só para pasto dos vermes.» (Aquilino Ribeiro, Volfrâmio); «... entendia em suas devoções particulares, e a principal era oração e contemplação, seu pasto quotidiano e antigo. (Frei Luís de Sousa, Vida do Arcebispo).
A palavra repasto, derivada de pasto, com o prefixo de intensidade re-, significa qualquer refeição e, mesmo, banquete.
Casa de pasto é, pois, uma casa destinada a servir comida, refeições.

Pergunta:

Sou professora de Língua Portuguesa, e admito que a distinção entre o que é um nome abstracto ou concreto está rodeada de alguma indefinição.
Em determinadas gramáticas, música é um substantivo abstracto, noutras já é concreto. Qual é a vossa opinião?
Outras palavras que levantam dissidência são: hora, século, ano.
Gostaria que me fornecessem algumas indicações. Antecipadamente grata.

Resposta:

A sua dúvida é muito pertinente. É verdade que, se há substantivos cuja classificação não oferece dúvidas, outros há que são objecto de diferente interpretação e classificação.
Começava, então, por tentar dar uma definição dos conceitos de concreto e de abstracto, para passar depois às palavras que refere.
Substantivos (ou nomes) concretos são palavras que designam substâncias ou seres propriamente ditos, materialmente existentes, não conceptuais ou subjectivos, mas objectivamente considerados:
- seres e substâncias realmente existentes na natureza tais como pessoas, animais, vegetais, minerais, partes ou compostos desses seres, lugares, etc.;
e
- substâncias ou seres materialmente fabricados pelo homem, tais como objectos, utensílios, máquinas, etc.
Substantivos (ou nomes) abstractos são palavras que designam propriedades ou qualidades, estados, conceitos, acções, situações, processos.
Para a distinção entre concreto e abstracto, socorremo-nos também de algumas oposições, por exemplo, entre objectividade e subjectividade, entre específico e genérico, material e imaterial, acessível e inacessível aos sentidos, determinado e indeterminado, com ou sem utilização do plural.
Embora os conceitos de concreto e abstracto sejam tradicionalmente considerados em oposição, há quem conceba esta classificação não numa perspectiva de oposição, mas na de uma escala que vai do mais concreto ao mais abstracto, podendo uma palavra ter diferentes graus de abstracção, consoante os contextos. Por outro lado, há substantivos que têm propriedades de um e outro tipo, entrando numa zona de indefinição. Como outras classificações, esta também não é perfeita.
Quanto às palavras que apresenta, no meu entendimento, apenas música é um

Pergunta:

Ao ler «A Ratazana» de Günter Grass encontrei o termo "suabo". Já procurei em vários dicionários e não consegui descobrir qual o seu significado.
Solicito a vossa ajuda para que possa ultrapassar mais esta dúvida.

Resposta:

Suábio (ou suabo) significa pertencente ou relativo à Suábia, natural da Suábia.
A Suábia era um ducado medieval alemão do Santo Império Romano Germânico, situado entre a Baviera, a Francónia e o Reno. Chamou-se primeiro Alamânia, e depois Suévia e Suábia, do nome dos seus habitantes, os Suevos. O nome aplica-se hoje à área do antigo condado e particularmente à parte da Baviera.

Pergunta:

Existe a palavra azeramento, isto é, colocar a zero/zeros um qualquer contador?

Resposta:

Não tenho conhecimento da existência de tal palavra.
O Dicionário Aurélio século XXI e o Dicionário Houaiss (ambos brasileiros) registam o verbo zerar com o significado de «reduzir (dinheiro, conta bancária, etc.) a zero», «saldar, liquidar, tornar quite (contas, dívidas, etc.)», «reduzir a zero, tornar sem efeito, anular», «dar nota zero» e «receber nota zero».
Já o verbo azerar significa «dar têmpera ou cor de aço a», o mesmo que «acerar».

Pergunta:

Como a nossa consultora Maria Regina Rocha tinha prometido, aqui está a sua investigação suplementar sobre a origem e o significado da expressão Saco azul.

Resposta:

Ponto prévio
Descobrir a origem de uma expressão pode ser tarefa fácil, se ela tiver sido proferida por pessoa de renome, estiver registada ou for recente. No entanto, muitas das expressões que enriquecem a nossa língua permanecem com uma origem obscura, podendo ela vir a ser descoberta na casualidade de uma consulta bibliotecária.
Não sei qual a origem deste termo. Do que li, dou conta aos consulentes.

Significado e conotação
O termo “saco azul” não teve sempre a conotação tão negativa que hoje lhe é atribuída.
Segundo o Grande Dicionário da Língua Portuguesa de António de Morais Silva, de 1949-1958, saco azul era a designação dada ao conjunto de importâncias provenientes de receitas eventuais, sem designação oficial, donde saíam verbas para despesas não previstas, em certos serviços públicos. Como as verbas atribuídas pelo Estado tinham uma grande rigidez de aplicação em rubricas específicas, a existência de um «saco azul» permitia por vezes agilizar o sistema.
Posteriormente, não só em organismos oficiais como sobretudo na escrita de firmas e empresas particulares, o termo ganhou a conotação de dinheiros ilícitos, ou porque provenientes de corrupção ou porque, mesmo não sendo daí provenientes, não eram registados de forma lícita, e apenas um n.º restrito de pessoas sabia do seu montante ou proveniência, não sendo, pois, declarados para quaisquer fins oficiais, nomeadamente os impostos. O seu registo interno, para quem a ele tinha acesso, também era (é) denominado de «Contabilidade Paralela» ou «Caixa 2», sendo este último termo o utilizado no Brasil.
Origem
Primitivamente, o dinheiro era guardado e transportado em sacos. Daí a associação de saco a dinheiro, desde o tempo dos romanos. Em Roma o sacculus (saco para o dinheiro) desempenhava um importante papel na administração pública e era uma das...