Maria Regina Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Estou a fazer um trabalho sobre cianobactérias e encontrei num ‘site’ brasileiro muita informação. No entanto, há duas palavras para as quais não sei a definição correcta em português, será que me pode ajudar? As palavras são "lótico" e "lêntico". O contexto em que apareceram foi este: «A passagem do meio hídrico de lótico para lêntico causa mudanças drásticas na indução de fluorescências de cianobactérias.»

Agradecida.

Resposta:

Segundo o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, lótico e lêntico são termos (adjectivos) da área da ecologia.

Lótico: «diz-se de ambiente de águas movimentadas», «(organismo) que vive em ambiente de águas movimentadas».

Lêntico: «diz-se de ambiente de águas paradas ou de pouca movimentação como lagos e charcos», «(organismo) que vive em tal ambiente».

Pergunta:

Tenho dúvidas na definição de "herbivoria". O contexto em que aparece é este: «...esses compostos tenham função protectora contra herbivoria, como acontece com alguns metabólitos de plantas vasculares.»

Agradeço desde já a atenção dispensada.

Resposta:

Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, herbivoria significa «hábito alimentar dos seres vivos que consiste no consumo de tecidos vegetais não lenhosos».

Pergunta:

As palavras parónimas não me levantam qualquer tipo de dúvida. Em relação às palavras moca/moça, mantenho a minha dúvida já que são também consideradas homógrafas as palavras para/pára. Neste caso, é lógico que foi o acento agudo que lhes alterou a fonia. Em relação a moça/moca é também a presença da cedilha que lhes altera a fonia. Assim, a minha dúvida ainda se mantém.

Resposta:

A questão que apresenta é muito interessante e pertinente.

Como não tem dúvidas sobre as parónimas, vamos, então, esclarecer o conceito de palavras homógrafas. A homografia é um género específico de homonímia parcial e designa a relação existente entre duas unidades lexicais que têm a mesma forma gráfica, mas formas fonéticas e significados diferentes. Penso que a definição é consensual; o que não é consensual é o que se entende por «a mesma forma gráfica», pois autores há (e muitos) que consideram que são homógrafas palavras que variam na acentuação gráfica, como, por exemplo, falamos e falámos, para e pára, pelo e pêlo, sabia, sábia e sabiá, saia e saía, tem e têm.

Não é este o meu entendimento. Em rigor, considero que um acento assinalado graficamente é um sinal gráfico como outro qualquer, alterando a grafia da palavra, pelo que reduzo as palavras homógrafas àquelas que, efectivamente, têm rigorosamente a mesma grafia, mas fonia diferente como, por exemplo, conforto (substantivo) e conforto (forma verbal), erro (substantivo) e erro (forma verbal),

Pergunta:

Olá a toda a vossa equipa! Desejava saber se ambas as palavras, "psicodélico" e "psicadélico", existem em Português. Isto porque em alguns dicionários encontro "psicodélico" e noutros "psicadélico". Sei que no Brasil e em Espanha a forma "psicodélico" é, de um modo geral, a utilizada.

Obrigado.

Resposta:

No Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, bem como na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, está registado o termo psicadélico; nos dicionários brasileiros, Dicionário Novo Aurélio Século XXI e Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, surge o termo psicodélico, mas na versão portuguesa deste último, remete-se para psicadélico.

Em português, existem, assim, os dois termos, um usado em Portugal, o outro, no Brasil.

Pergunta:

Tenho um amigo que, de vez em quando, diz: "será se isso está certo?" ou "será se vai chover hoje?". Eu lhe disse que o uso correto dessa expressão era "será que" ("será que ele vem?"), mas não soube explicar o porquê. Depois de muito discutir sobre o assunto, esse amigo me disse que há construções em que o "se" não demonstra, necessariamente, relação de condição: "Veja se o almoço está pronto" ou "Veja se compra mais comida dessa vez". Qual seria, portanto, a forma correta: "será se..." ou "será que..."?

Agradeço desde já.

Resposta:

O consulente pode não saber o porquê, mas a razão está consigo. Deverá dizer-se será que, e nunca “será se”. Será que é uma expressão feita a partir da interjeição será com valor dubitativo (= talvez). Não se trata do verbo ser que introduz uma outra oração, mas, sim, de uma partícula de realce ou expletiva, que acentua a dúvida já presente na interrogativa.

Esclareço que a palavra se, efectivamente, pode ser uma conjunção condicional («Se não fizeres os trabalhos de casa, não aprendes.»), mas também, entre outros, um pronome reflexo («Ele viu-se ao espelho.»), um pronome indefinido («Diz-se que há muita corrupção.»), uma partícula apassivante («Não se constroem casas como antigamente.») ou ainda um elemento de ligação de uma oração integrante a outra, completando-lhe o sentido («Não sei se ele vem.»).

Nas frases «Veja se o almoço está pronto.» e «Veja se compra mais comida desta vez.», a partícula se serve de ligação entre a oração constituída pelo predicado Veja e o seu complemento, que é a oração que se segue.