Pergunta:
Gostaria de saber como se classificam as frases complexas cujas orações se repartem pela introdução do discurso directo e o discurso directo propriamente dito. Exemplo:
«Quando o José abriu a caixa disse:
— É para mim!»
Atentando na frase/oração introdutória, se a 1.ª oração é facilmente classificável (subordinada adverbial temporal), já a segunda, ao reduzir-se apenas ao verbo declarativo «disse», suscita algumas dúvidas, pois um dos constituintes fundamentais deste verbo — o complemento directo (CD) — é enformado pela frase simples já em discurso directo. Assim, poderá «disse» ser considerado por si só oração subordinante ou, pelo contrário, e como está em falta um dos elementos essenciais por ele pedido, não poderá de modo algum sê-lo? Caso não possa considerar-se como oração principal, como classificá-lo? E a oração subordinada adverbial continua a sê-lo?
Quanto à frase já em discurso directo («É para mim!»), devemos classificá-la como frase simples (porque o é por si só), ou, sabendo nós que se trata do CD do verbo declarativo antecedente, devemos analisá-la na sua forma de discurso indirecto e classificá-la como oração subordinada completiva?
O mesmo para «Penso — disse meu pai — que te darás melhor em letras»: «disse meu pai» — frase simples, ou, convertendo toda a frase para o discurso indire{#c!}to («O meu pai disse que pensava que me daria melhor em letras»), oração subordinante?
Já agora, aproveito para colocar a mesma questão em relação a frases complexas na interrogativa. Exemplo: «Será que expulsá-lo da aula foi bem pensado?»
Espero ter sido clara na exposição da dúvida.
Obrigada.
Resposta:
Em primeiro lugar, importa sublinhar que, em termos sintá{#c|}ticos, as frases em discurso dire{#c|}to diferem bastante das completivas e, como procuraremos demonstrar, não se constituem como complemento dire{#c|}to do verbo introdutor.
1. Ao contrário das completivas, não é possível encontrar nas frases em discurso dire{#c|}to um complementador (ou conjunção, na terminologia tradicional) que ligue as duas orações.
2. Tipicamente é obrigatória uma pausa, na fala, ou pontuação que a indique, na escrita, entre o verbo introdutor e a frase no discurso dire{#c|}to. Assim, uma estrutura como «* O João disse eu estou contente» é an{#ó|ô}mala, sendo possível apenas uma construção como «O João disse: – Eu estou contente.» Pelo contrário, as completivas ocorrem sem qualquer pausa entre o verbo introdutor e a oração subordinada: é bem formada uma frase como «O João disse que está contente», sendo an{#ó|ô}mala a sua equivalente com pausa, i. e. «* O João disse: que está contente». Ora, como sabemos, nunca são possíveis pausas entre um verbo e o seu complemento dire{#c|}to, o que indicia que as frases em discurso dire{#c|}to não estabelecem este tipo de relação sintá{#c|}tica com o verbo introdutor, em contraste com o que sucede com as subordinadas completivas.
3. As frases com discurso dire{#c|}to permitem a introdução de um sintagma nominal com a função de complemento dire{#c|}to do verbo sem ocasionarem qualquer tipo de agramaticalidade. Assim, é perfeitamente possível uma estrutura como «O João disse estas palavras/uma coisa extraordinária: – Estou contente.» Já numa construção completiva, a introdução de um complemento dire{#c|}to de tipo nominal dá inequivocamente origem a estruturas agramaticais, como podemos comprovar em «* O João disse estas palavras/uma coisa extraordinária que está contente». Isto significa que a oração completiva e o SN complemento dire{#c|}to do verbo competem pela mesma posição sintá{#c|}tica, não sendo possível a ...