José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Em primeiro lugar, parabenizo-os pelo site. Tem sido de grande ajuda.

Minha pergunta é sobre a expressão «quando mais não for». Não a tenho registrada nos dicionários que possuo e, por isso, indago como usá-la corretamente.

Aproveito a oportunidade para consignar que foi recentemente republicado no Brasil o Dicionário Analógico, de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, com prefácio do cantor e compositor Chico Buarque de Holanda e também do prof. Leodegário A. de Azevedo Filho, acadêmico correspondente da Academia de Letras de Lisboa. Julgo ser obra de interesse para todos.

Resposta:

Quanto, advérbio, e não quando, conjunção. «Quanto mais (não for)» é a locução adverbial que deve empregar. Tal como: «quanto antes», «quanto mais... mais», «quanto mais... menos», «quanto menos... mais», «quanto quer que», etc., etc.

Os nossos agradecimentos pelos generosos cumprimentos para com o Ciberdúvidas, assim como pela informação prestada sobre a reedição do Dicionário Analógico da Língua Portuguesa, de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo.

Na explicação-notícia do jornal Expresso, que passou a ser editado segundo as novas regras do Acordo Ortográfico, um guia anexo sobre as principais mudanças no português escrito, da autoria de Daniel Ricard...

Pergunta:

Há algum tempo, enquanto via a rubrica Bom Português da RTP, deparei-me com o facto de não existirem «enviados especiais» a um qualquer ponto do globo mas sim, um «enviado». No entanto, continuo a ver e ouvir nos diversos média a forma «enviado especial». Fico na dúvida de qual é a que está correcta.

Resposta:

«Enviado especial» é uma expressão consagrada, e bem, na imprensa mundial. Os anglo-saxónicos chamam-lhe special envoy; os franceses, envoyé spécial, e os espanhóis, tal como em português. O termo aplica-se sempre que um jornal, uma estação de rádio ou de televisão enviam um(a) jornalista especificamente (ou especialmente) para a cobertura de um determinado acontecimento no estrangeiro, por imperativo de actualidade. Que pode ser por qualquer razão imprevista no planeamento normal dos media. Por exemplo, um terramoto, o falecimento de uma personalidade desta ou daquela área, um qualquer golpe de Estado, etc., etc. Já a cobertura, por exemplo, do Festival de Cinema de Cannes – uma rotina anual das agendas noticiosas – tem a cobertura de «enviados», simplesmente. Ou, noutro exemplo, quando o jornal X manda um «enviado» aos países bálticos para uma série de reportagens que assinalarão uma determinada efeméride, quando ela ocorrer. Em síntese, ao «enviado» a uma determinada zona incumbe fazer um trabalho jornalístico intemporal, ao passo que o do «enviado especial» foi imposto pela actualidade noticiosa.

O mesmo acontece na diplomacia internacional – por exemplo, na ONU –, onde se distinguem, também, os «enviados» e os «enviados especiais», conforme a (im)previsibilidade do acontecimento em causa.

[Uma correcção: a palavra latina media escreve-se sem acento.]

Depois do «há anos (ou meses, ou dias) "atrás"», deve ser o modismo mais ao gosto das ditas elites portuguesas. Não há político, comentador, jornalista, gestor e afins, até professores e escritores (!),  que não pronuncie a palavra latina media como se ela fosse inglesa. O pedantismo só revela ignorância. Foi no que incorreram o presidente da Ongoing, Nuno Vasconcellos, e a jornalista autora da peça emitida pela RTP N.1 

Pergunta:

Quais as palavras de língua portuguesa que são derivadas da língua concani?

Resposta:

Remeto a interessada consulente para as Contribuições para a Lexiologia Luso-Oriental, do dr. Sebastião Rodolfo Dalgado, Lisboa, Academia das Sciências de Lisboa, 1916, 190 pp.

No índice do volume aparecem as seguintes palavras estudadas no texto: Abada, aliá, amouco, andor, batcará, bazar, veniaga, bétele, búfara, caldeirinha, canja, cassa, catele, caurim, chatim, corja, jangada, machila, pagode, palanquim, rotim, e algumas outras.

concani não era a língua dominante na altura da chegada dos portugueses, nem foi durante todo o período colonial. A derivação seria do sânscrito que servia/serve de base para uma grande parte das línguas indianas. Escreve Dalgado logo na primeira página, n. 2, que os primeiros nomes botânicos indianos foram principalmente introduzidos por Garcia de Orta, autor dos Colóquios, impressos em Goa em 1563.