Helena Couto Lopes - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Helena Couto Lopes
Helena Couto Lopes
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Licenciada em Filosofia e em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos; mestrado em Linguística Portuguesa Descritiva e doutorada em Linguística pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Relativamente ao Dicionário Terminológico, que é o documento orientador do Conhecimento Explícito da Língua, muitas dúvidas me têm inquietado, sobretudo no que se refere aos constituintes selecionados pelo nome, quando se trata de um grupo preposicional, iniciado por de, pelo facto de esse grupo poder exercer sintaticamente a função de complemento do nome ou modificador restritivo do nome.

Tendo em conta o contexto (perspetiva inerente ao CEL), eu questiono se o mesmo grupo preposicional pode mudar de função sintática em função do dito contexto, como acontece no grupo verbal (complemento oblíquo/modificador do grupo verbal). Concretizando, na frase: «A cidade de Viana do Castelo localiza-se na região do Minho», o grupo «de Viana do Castelo» é complemento do nome, ou modificador restritivo? A mim parece-me que a palavra cidade exige/seleciona, neste contexto, um complemento, logo seria complemento de nome. Porém, na frase: «Eu vou à cidade de Viana do Castelo», o mesmo complemento me parece dispensável, ou seja, o nome cidade não o exige, o que me leva a pensar que é modificador restritivo, pelo facto de a aceção do nome cidade ser diferente, já que, no segundo caso, o significado de cidade pode ser antónimo de aldeia (e não repartição administrativa, como na primeira situação).

Ainda a este propósito, considera-se que o grupo preposicional «de gravuras» na frase «Gostei do livro de gravuras» é modificador, ou complemento do nome?

Já detetei versões diferentes em livros/gramáticas. E na frase «Coloquei o livro de gravuras na estante», a função é a mes...

Resposta:

Em todos os casos que apresenta, o grupo preposicional é um modificador restritivo do nome.

Tal como os verbos, os nomes e os adjetivos podem selecionar complementos, que são grupos preposicionais. Essa subcategorização de um complemento faz parte do conhecimento interiorizado que temos do léxico. Assim, acerca da palavra medo, além de sabermos o seu significado e a sua forma fónica (como se diz), sabemos também que subcategoriza um complemento: «(medo) de alguma coisa/de alguém». Pode acontecer que numa frase esse complemento não se realize: «O medo é um sentimento muito generalizado.» Portanto, não é apenas a (im)possibilidade de supressão de um constituinte que nos mostra que se trata de um complemento ou de um modificador, sobretudo nos nomes em que a sua supressão não resulta frequentemente em agramaticalidade da frase.

As palavras livro, região ou cidade não subcategorizam nenhum complemento, mas frequentemente têm de ser seguidas de um grupo preposicional para construir a referência do grupo nominal e que são, portanto, modificadores restritivos do nome.

Chamo a atenção para o facto de não ser o contexto extralinguístico que altera a função sintática que alguns constituintes da frase podem ter, mas, sim, o contexto sintático.