Pergunta:
Leciono o 2.º ciclo e vamos entrar nas funções sintáticas. Há novo programa e um exame nacional no fim do ciclo. E há um grande problema de consciência para mim. Passo a explicar.
Por decreto, o DT impõe que os verbos constantes de uma determinada lista implicam sempre um nome predicativo do sujeito. Ora, isto ofende aquele princípio básico e indiscutível que obriga a tratar diferentemente o que é diferente. E a diferença, neste caso, não está nesse grupo de verbos, mas na natureza do referido predicativo – incide diretamente no sujeito e com ele coincide, considerando-o como um todo. Ex.: «Ele está doente.» Ora, isto é bastante diferente de «Ele está em casa». Aqui, a expressão «em casa» não incide diretamente no sujeito e muito menos coincide (se identifica) com ele. Este verbo (predicador) não é copulativo, mas incorpora aquela expressão, primeiro, e só depois realiza a predicação. Ou seja, aquela expressão é predicativo do predicador e não do sujeito.
Nota: Uso aqui a nomenclatura tradicional, porque, em rigor, todo o predicado e o predicado todo são predicativo do sujeito...
Estando disto convencido até prova em contrário, como posso eu, que, antes do português, promovo a lealdade na relação com os alunos, dar-lhes coelho por lebre?!
Resposta:
O predicativo do sujeito, tal como o consulente explicita, predica o sujeito, ou antes, «algo acerca do sujeito» (DT). Ora, isto significa que o predicativo do sujeito contribui para a identificação e a caracterização do sujeito, pois assim como ocorre a conferir propriedades ou características — razão pela qual pode ser um grupo nominal ou adjetival — também atribui uma localização temporal ou espacial (surgindo como grupo adverbial ou preposicional).
Repare-se que todo esse tipo de informação (propriedade, característica, localização temporal e espacial) são elementos de identificação do sujeito. Por exemplo, quando se diz «O Pedro é professor de Português», «O Pedro é moreno», «O Pedro está ali», «O Pedro está naquela sala», estamos a identificar o Pedro.
A questão apresentada pelo consulente deve-se, sobretudo, ao facto de nos termos habituado a considerar como predicativo do sujeito somente elementos caraterizadores desse mesmo sujeito, não abrangendo outras marcas de identificação. Mas importa reparar, também, que a própria nomenclatura da gramática tradicional continha imprecisões, pois como se explica que se classificasse como nome predicativo do sujeito um adjetivo? Por exemplo: «Ele é inteligente.» Por essa lógica, só os nomes/substantivos integrariam essa função! Então, somente em frases como «O Luís é engenheiro/médico/lavrador/poeta/músico», em que o predicativo fosse um nome/substantivo, é que predicava o sujeito?
É de referir também que o próprio Dicionário Terminológico nos esclarece que «é possível constatar que expressões com valor locativo selecionadas por verbos copulativos desempenham a função de predica...